terça-feira, dezembro 05, 2006

Conversa de mesa

(...)

- E então é isso - eu disse completando o raciocínio.

"Por favor, fale algo...
Você aí numa ponta da mesa e eu na outra, mudos. Depois do meu discursso
você nada disse. E eu aqui pensando. Pensamentos que enlouquecem.

Fale mal dos meus olhos silenciosos ou bem da minha preguiça, da minha cara
de retardado, do meu jeito romântico enjoativo, do meu lado piegas, da ironia de
escrever e ser burro. Mas fale. Fale ao menos que me odeia.
Fale do presidente da Venezuela, da mãe da sua vizinha, da gravidez da sua
cadela, dos sonhos fantasiosos de infância, do conservadorismo do novo velho
Papa, mas fale, por favor.
Fale bem do seu ex-namorado, do tempo que não me conhecia, das pessoas que
eu não conheço, e do que não queria ter conhecido em mim, mas fale.
Fale mal do meu cabelo escondido por detrás de um boné maltrapilho, da
falta de tesão que dá ao ver meu corpo, do desagradável sorriso, mas fale.
Fale logo algo, diz-me asneiras e futilidades. Abra logo réplica a qualquer
coisa. Diga logo que desgosta de mim a cada centímetro de palavra ou que me ama.
Mas diga logo que meus pensamentos me consomem. Minha mente atabalhoada não me
permite nada. Estou longe de me dar alta da minha análise.
Diz algo, pois o seu silêncio me deixa surdo."

- Eu te amo - disse ela.