quarta-feira, junho 27, 2007

À Rua Candida Menina

Você chegou lá toda prosa e eu todo verso. Foi entrando na caverna e eu naquele prédio. Perguntou a hora no relógio digital, mas quando vi a hora pela posição do sol tu ficaste mal. De tanta vergonha pediu pra ver TV e eu queria apenas ver no teto espelhado eu e você.
A cueca foi parar dependurada na janela numa espécie de provas visuais para quem visse de fora. Sua calcinha ainda não se sabe onde foi. Talvez por ser pequenina demais. Você veio com a mão gélida e eu com a boca fervente. Foi descendo mais e eu no final das suas costas. Na borda e no interior, nas cócegas e nos calafrios.
Você me tocou toda deusa e eu todo pobre, acima do muro do prazer abri seu cofre. Quero que grite mas quero discrição. Quero alardar, todavia nem me irrita o seu silêncio.
Eu te toco forte e você suave. Sobe os lábios até marte. Foi encaixando as coxas em mim, eu encaixando o peitoral em você. Punha os olhos fechados, e eu amava você. E amava...
Eu debaixo e tu nos céus. Prova de amor no motel dos réus. Saía sorridente e eu aparente. Fui pra poesia e você versificou por aí. Eterno amor se tornou meu. Virou a esquina e se perdeu.

domingo, junho 24, 2007

Um pé-de-vida






Aquele cheiro desafinado de penitência no ar ainda é notado. Só não se sabe penitência pelo quê. Nem sei se há crime à altura de tal penitência. Meu senhor, à propósito, padecia bem na medida em que pior só se nem pudesse mais abrir os olhos. Cheguei na metade da tarde de domingo, no meio do horário de visitas. Não queria ir desde o início. Tenho o argumento de querer guardar na mente a imagem do velho falastrão, contador de piadas, careca, sorridente e cara-de-pau que estava nessa boa rotina a tão pouco tempo. Anteontem mesmo reclamou que se dependesse de mim não teria bisneto tão cedo. Diz tanto que sou cobra sem veneno, que morde mas não marca. Ah, velho.Aquele ar melancólico de estúpida sensação de invalidez, dos pêsames, do incrédulo olhar de quem atende a quem é atendido. E, pra primeira impressão, um prédio alto e organizado a base de cabisbaixas cabeças. A ordem era calar e esperar.O INCA não é feio, nem bonito. Mas é diferente. Nem sei se por ser o maior da América Latina. Enfim. Dois por vez. E subi com minha mãe. Cruzamos dois corredores vazios, entramos no elevador até o sexto andar. Lá sim começou. A cada portela um retrato diferente. Era alguém que mal se mexia, outro com tubos pra lá, mais um com as pernas estranhas. Eu não identificava nada. Chegamos ao 633. Vi os outros três pacientes, um deles sem olhos, o outro com o rosto todo enfaixado. Era o sol, dizia uma voz inconsciente no meu consciente.Entre duas camas, sentado à vontade lá estava o coroa. Nem tão mal quanto imaginei, nem tão bem como sempre vi. É câncer nas cordas vocais originado de um fumo compulsivo que teve durante grande parte da vida. O principal da história é que foi descoberto a dois meses depois de ter parado de fumar a 15 anos. Tinha um grande curativo envolta do pescoço, um canudinho saindo pelo pescoço. Não podia falar. Daí eu falava, falava...e ele apenas no gestual. Um homem entrou e começou a falar através de gestos também. Só não reparou que meu avô está mal da garganta e não do ouvido. Brinquei, claro. Saudável.Uns minutos mais. Desci. Acabou a visita. Amanha ele já está em casa. A fala volta em um mês. Mesmo assim já andou reclamando que com tantas enfermeiras ele dorme ao lado de um homem. Meu velho e o sofrimento sorridente. Por hora, a eternidade continua. Um pé-de-vida que ainda cresce. Viva!

quarta-feira, junho 20, 2007

Nor...

...mal. Muy mal.

Lembro da série, da fina ironia de que "Os Normais" eram os bitolados da
vez. O que é normal? Diga-me quem é normal que te direi que não és.Não me peça pra pensar como um homicida para entender a sua visão de
normalidade de um crime. Matar é anormal, ou já se tornou normal demais pra
ser barbarizado. Um corpo estirado já é tão normal quanto uma folha de
bananeira caída. "Acontece...", diz a ironia dos céticos.Eu não vou à faculdade hoje. Está em greve novamente. Contei à mamãe. Ah,
e ela fez uma cara de normalidade (ou cara de cú em dia de frio suado, como
diz meu afilhado). E é natural. Faculdade e greve. Normal seria passar um
ano com aulas. Normal.Menino com menina: normal. Menina com menina: anormal. E pra uma dessas
duas meninas, estando feliz, normal é. Morte: normal. Morte de ente querido
gera tanto choro que eu me pergunto se quem inventou isso está errado. Pra
mim está. O normal é relativo mas nem o relativo é normal.Normal é as coisas acontecerem como sempre foram mesmo que a um bom
tempo atrás não terem acontecido da forma como acontecem hoje. O habitual
é costume. Então não me chame de normal, sou insano. Então o normal, por
esses tempos, é o costume a longo prazo.Pra normal, sugiro mais. Sugiro que vejas que tem tanta gente diferente, que
todos são diferentes. E assim sendo, ser diferente é ser normal. Tem tanta
gente excentrica por aí que ser excentrico, ou louco, ou desmiolado, é normal.
Somos todos os normais às avessas do que nossos avós entendiam por normal.Pra mim, normal não é nada. Normal é uma coisa de outro mundo esperando
tradução e, porque não, por comentários dos meus belos normais.

segunda-feira, junho 18, 2007

Soul Cópia


Uma música de mal gosto.


Sou alguém criativo até. Mas não tenho mérito. Isso foi superado. Aliás, o que vale mais? Mérito ou êxito? Então, faça qualquer coisa e se dê bem. Não precisa ser do melhor jeito. E não tenho método. Isso morreu. E não tenho eu.

Eu não sou mais eu.

Sou cópia dos que admiro. Apenas um mal moldado que se fantasia do ídolos. E nem precisa ser ídolo. Basta ser bom. Sou uma xerox desavisada do eu queria ser e nunca serei. O que vence? O original ou a cópia mal fabricada? Óbvio. A cópia mal fabricada. A arte morre, agoniza. Pra quê? Isso morreu. E eu nem arte tenho.

De que vale profundidade se a superficialidade é o que há? Sou superficial, sim. Tudo se tranforma. E eu me tranformei num estúpido poeta que não sabe nada de inspiração, esse bicho cheio de novidades que escapam das minhas mãos.

sábado, junho 16, 2007

Conversa de prima nem tão pequena assim

- Gente, eu acho que a falta de água é por causa das pirâmides. - disse minha prima pra um punhado de três outros pequenos primos, que não são tão pequenos assim.
- Quê?
- É sim. Eu posso explicar a minha teoria.
- Duvido...
- Parece doideira, mas de acordo com a minha teoria, é verdade. Assim, vocês realmente acreditam que aqueles povos foram capazes de colocar aquelas pedras gigantescas umas em cima das outras naquela época? Sem um caminhão, um trator ou qualquer coisa do tipo? Não, eu tenho certeza que não!
- Ahahah, eu nao acredito que ouvi isso.
- Vocês mesmos podem ver que as pirâmides se localizam no meio do deserto! A água lá perto é realmente bem escassa!
- Ahahahah
- Viu? As pirâmides gastaram tanta água que hoje fazemos racionamento pra economizar o gasto excessivo. - continuou
- Tá bem, agora as raízes delas se prolongam por baixo de rios e mares acabando com a água do planeta todo. - ironiza um primo.
- Que historinha simpática!
- É mesmo. Só quem não é simpática nessa história é a esfinge. Ela come as pessoas.
- Então ela é, por asism dizer, uma pedra carnívora?
- É uma pedra tarada, isso sim.
- Parem de ver TV, por favor! Rs - completei.

quinta-feira, junho 14, 2007

CAMPANHA

Gostaria de reaproximação. Do mim, por mim mesmo, feito por vocês.
Gostaria de pedir a ajuda de quem frequenta e constrói este humilde cafofo virtual para atualizar o mesmo. Gostaria de ouvir palpites para um novo nome para o meu blog, já que este "Gol feio" desgastou e nada tem mais haver com a temática (se é que já teve algum dia).

Qual a sugestão de vocês? Me ajudem, por favor a dar um novo nome pra este blog.

Grande ministra

Alguém ouviu o que a querida Ministra do Turismo declarou?


(Répórter) - Qual conselho a senhora daria para aqueles que passam pelos transtornos dos aeroportos?

(Marta Suplicy) - Ah, relaxa e goza.


Só pra constar.

terça-feira, junho 12, 2007

Minutos depois

(Selecione os espaços entre aspas para ler os pensamentos)

- Amor, se veste de coelhinho rosa pra mim?
- ã?
- Ah amorzinho, só uma vezinha.
- Não. Tá louca, amor?
- Ah é? Então tá.

"
Ele não faz nada por mim. Só um pedido. Não é o amor da minha vida, só pode.
"

Se entreolham...

"
Ela quer me testar. Pra quê me fazer pagar um mico desses?
"

Ele vai tirando a mesa. Ela vai lavando a louça.

"
Mas é tão linda. Será que eu faço?

Sei que exagerei. Quem sabe pedir desculpas pra ele?

"
E caminham em diração um ao outro...

- Amor.
- Amor.
- Eu me visto.
- Não precisa amor.
- Mas você pediu tanto.
- Mas não precisa.

"
Ela me irrita.

Ele me irrita.
"

Segundos depois...

- Vai ficar lindo. Ali na loja da esquina vende a fantasia perfeita.
- Mas você disse que não precisava.
- Estava querendo te agradar.
- Também não vou me vestir mais.
- Por favor.
"
Ele tem o poder de adiantar ou estender a minha TPM. Custava se vestir de coelhinho rosa pra mim? Tem prova de amor mais linda?

Ela tem que fazer isso. Sempre! Quando tudo está ótimo inventa algo pra me tirar do sério.

"
Segundos...

- Tá bem. Sabe que eu te amo né?
- Não quero. Durma no sofá. E não me venha com esse sorriso largo e carente que hoje não tem vem-cá-minha-nêga.

...mulheres...

...homens...

- Eu te amo.
- Também te amo.

As horas no dia doze

Às dezesseis horas do dia doze de junho verás o invisível
Saberás do que ninguém sabe
Descobrirá a fantasia das fadas
A identidade do cupido
Detestará passar dias frios sozinho
Conhecerá Carlos Drummond
Lerás poesias até chorar
E chorar, a partir daí, será um feito de dignidade.


















Já às dezesseis horas de qualquer dia de tempos futuros
Saberás que tudo termina
Descobrirá que fantasia é coisa da sua cabeça
E que o cupido é um desocupado
Detestará todos os dias
Lembrará de Drummond como um sonhador
E chorará a cada poesia de sua autoria
Dos tempos em que amava e era amado.

terça-feira, junho 05, 2007

Vinte e dois


Entre berros e sussurros escorrego na ponta passional que tem sido meus dias frios de junho. Belíssimo mês, outono cintilante, gélido e, por assim ser, tão mais quente. É onde desde sempre minhas histórias acontecem mais, onde eu deixo de ter vergonha pra dançar quadrilha, inventar festas e comemorar o que não deveria ser comemorado. É quando as pessoas ficam mais bonitas, se vestem melhor, e as roupas, casacos e tudo mais, são mais bonitos que a diferença entre corpos belos ou não.

Esperei cinco dias para me pronunciar. Em todos os anos era exatamente assim. A partir do segundo dia do mês me batia uma tal coisa má, crise existencial e perguntas martelando no dolorido consciente: o que sou? Mais um ano de vida, o que fiz?

E, no pior, a tristeza. Afinal, não é mais um ano de vida comemorado. Veja sob outra perspectiva. Veja de frente para tras. Sim, menos um ano de vida. Menos um ano pra ser vivido.

Mas o mês é belo. E a cada ano fica melhor. Tonteia os olhos, agita de cá e dali. Violenta qualquer trejeito de tristeza logo após o primeiro sorriso. É um grande dia, triste dia alegre. O vento faz baile à minha porta.

E eu, no final das contas, sou apenas mais um louco. Vinte e dois anos dia oito de junho.

domingo, junho 03, 2007

Sacanagem

Sacanagem não é tudo, mas tudo é sacanagem.
Uns dizem que não sou tudo. Outros dizem que sou tudo.
Se não sou tudo pra uns, tudo bem. Sacanagem também não é tudo.
Se sou tudo pra outros, pra estes sou pura sacanagem.