segunda-feira, abril 28, 2008

Rekeio

- No rekeio, pai.
- Não, filho. É recreio.
- Rekeio.
- Não. Re-creio. Repete comigo.
- Re-KEIO.
- Re...
- Re...
- Cre...
- ...
- Fala, filho. Cre...
- Keio?
- Desisto.
- Eu só como, papai.
- Deixa, meu bolinha.
- Deixa lá nada.

sexta-feira, abril 25, 2008

Ex

Já tive alguns meninos mais. Uns garotos, apenas garotos. De nada não eram ruins. Eram apenas eles. E eles, nenhum deles, são em alguma parte você. Não consigo nem ver Leoni cantar que não seja com você. São outros namorados e nenhum pode encaixar um abraço feito os seus. Eu me encolhia e descobria assim que o amor nos faz coragem e vítima, medo e aconchego. Depois de você, sei não.
Agora, apenas amigos. Assim não vale. Acho até que engordei, enfeiei o que eu achava que não podia ficar pior. Quando me chamava de baixinha eu até queria encolher mais pra ver o quanto você podia me proteger. Outro dia achei uma carta. Nosso primeiro mês. Não consigo ver as meninas do seu lado, sorrindo. Elas não merecem o melhor homem que tive na vida. tive até garotos antes. Nenhum deles fez o que você me fez.
Tem gente que até hoje pergunta de ti. Mas quem não pergunta sou eu. Pena que te conheci a milhões de anos atrás...

terça-feira, abril 22, 2008

Ainda não começou

"Mesmo que fale três línguas e eu ainda no português. Mesmo que venha de carro e eu a pé. Mesmo que seja enorme e eu pequeno. Com suas viagens, suas experiências. Mesmo com tudo. Não faça mais nada porque até o meu consciente sabe que teu inconsciente me quer. Não é papo de galanteador, não. Não é indolência, por favor. É a verdade que já está dita e bem dita. Teu inconsciente sobrepunha teus olhos e, assim, teus olhares são meras crianças falastronas e sinceras."
- Achei isso jogado no chão da tua sala... - disse ela a mim.
- Ah, sei lá. Apenas um trecho de um filme.
- O filme da nossa vida?
É sim, o filme da nossa vida. Eu estou aqui olhando nos seus olhos e não consigo não mais te ter.
- Responde. É o filme da nossa vida?
Eu não conseguia falar. É uma ferida aberta para a etenidade. Eu fingia que não amava mais. Ela também. Mas...
- Ahh, tchau.
E eu fico apenas pensando. O mais covarde. Não consigo falar nos olhos dela. Esses mesmos olhos infantis e falastrões...
- Eu ouvi o que você falou...
- Eu tô falando de amor e não de qualquer coisa.
- E eu estaria falando de quê? Bobo...

Já se pode imaginar no que deu.

quinta-feira, abril 17, 2008

Aquilo denovo?

- NÃÃÃÃÃÃÃO. É o fim!
- Que isso cara?
- Não dá pra acreditar. Sinal vermelho!
- Um sinal vermelho, Evandro.
- NÃÃÃÃÃÃÃO, outro sinal vermelho. Puta que paril!
- Calma, amigo.
- Calma nada. Olha alí. Uma maldita nuvem cinza. Vai chover e minha praia vai babar.
- Hoje é terça-feira. Sua praia é sábado.
- Puta que pariiiiiiiiiiiiiiiiiil!
- Já sei. A Sandra tá de TPM denovo, só pode.

sexta-feira, abril 11, 2008

O feriado do "comigo não tá".

Acabo de vê-la apagando mais que meia dúzia de palavras difusas e resgatantes de um passado recente. Foi a flor que me negou. Também pudera. Criança diz "comigo não tá". E eu não me dei conta que tinha que dizer "nem comigo". Está comigo.
A menina que Jobim não musicou apaga a cada olhar alheio, a cada escorrregão pra lá do trilho que caminho o estreito que ainda nos unia seja lá de que forma fosse. Ah, Jobim, ela se distancia num clarão cada vez mais irreversível, irredutível.
Que música surda, que ar voluptuosamente cruel, que amor consumido em tão pouco tempo e que deixou um rastro um tanto eterno de destruição. Façamos de um feriado o dia de hoje para que eu possa não trabalhar e morrer com razão ao menos por justificáveis vinte e quatro horas.

terça-feira, abril 08, 2008

Bibinha e Romão

Os casais possuem certas animosidades. Deve ser o tédio de ser feliz. Ou a felicidade acumulada sendo usada nas suas mais variadas formas. É criativo. Romão e Débora. A quietude e a vontade de falar demais. A fantasia e a realidade. A criança e a moléstia boa. E o casal num acesso de amor.
- Guarda para você. Presente - Debora sorri, meiga e cruel.
- Pra jogar no lixo?
- Não. Presente pra você. Vai jogar no lixo um presente da sua namorada? Guarda para sempre.
- Presente? - ele respira. Ela testa sua paciência ou até a sua paixão - Tudo bem. Olha aqui ó. No bolso. Em casa guardo num lugar bem bonito, muito bem guardado. - Continuou Romão, amargo como a fruta e não tão frio quando você, meu leitor, imagina.
Um ano depois. Tá, um ano, quatorze dias e dezesseis horas e trinta e cinco minutos depois. Exato? Não. Mas é mais ou menos por aí.
- Sabe, amor. Estava lembrando daquele dia no Laranja da Terra.
- No Laranja da Terra? Ah, aquele restaurante no baixo Iguaçu? Lembro, mais ou menos.
- Bem queria ver se você ama a Bibinha aqui. Ama?
- Amo sim Bibinha.
- Então me mostra o presente que te dei naquele dia e que você disse que ia guardar muito bem guardado.
- Amor, faz muito tempo.
- Você não guardou.
No mínimo Bibinha o fez ficar um mês sem sexo. No máximo? No máximo Romão entendeu que as mulheres são seres com extraordinária memória e extraordinária capacidade de nos testar, irritar, sei lá, sempre.

sexta-feira, abril 04, 2008

Causo de suspeita

- Já viu teu irmão?
- Desde que ele nasceu.
- Não. É que ele ta tomando soro.
- Que que ele tem?
- Tá com suspeita...
- Eu sabia. Sempre suspeitei dele. Sempre suspeitei daquele jeito bem vaidoso, muito metrosexual...
- Não. Ele tá com suspeita de dengue.
- Ah...essa suspeita então...

quarta-feira, abril 02, 2008

Pseudônimos

Não sei se eu poderia criar vários de mim. Não sei se hoje em dia caberiam meus pseudônimos disciplinados na minha escrita. Fernando Pessoa criou o seu Ricardo Reis, o seu Alvaro de Campos, o seu Casais Monteiro e funcionou. Caso eu criasse meu Roberto da Batista, meu Osair Rosal não funcionaria. Visto que me esconder atrás de um pseudônimo seria complicado nesse conteporâneo mundo eu sou eu mesmo. Caso houvessem dois, três de mim seria inútil e falível. Ninguém acreditaria, seria acusado de plágio de mim mesmo e, de vez em quando, nem eu acreditaria em mim.