quinta-feira, maio 29, 2008

Querem ver

Subentende-se um valor a mais no olhar.
E por ele que procuro
Procuro e nada a ele em especial, vem.
Para os ouvidos, música.
Para o nariz, cheiros que mais vêm da mente que do ambiente.
Mas pros olhos, carma, acizentadas paredes.
Eles precisam de borboletas à frente.
Eles precisam de cor.
Eu quero cor.
Mas, segundo uma das Leis de Murphy...
"O modo mais rápido
de se encontrar uma coisa
é procurar outra.
Você sempre encontra
aquilo que não está procurando".

(Thiago Kuerques - 19/10/06)

segunda-feira, maio 19, 2008

A desencantada do ônibus e do dentista.

Não sabia como me aproximar dela naquele matinal ônibus de todos os dias. Cabelos abusadamente lisos, como cortina de um palco para o rosto perfeitamente fino. Era a única que vi naquele veículo a cruzar as pernas num espaço tão pequeno. Sabia que era linda. Nathalia? Amanda? Rosélia? Fabiana? Joana? Claudinha? Assassina? Professora? Psicóloga? Matilde? Ana? Me engana!
Enchia-me de audácia todo dia um pouquinho mais. Foram tantas doses homeopáticas que me perdi. Mas depois me encontrei bem ali, cruzando com ela mesma na fila de espera do dentista. Éramos cinco. Depois quatro. O terceiro acompanhava o sexto que eu nem havia visto entrar. Restamos nós. Comecei o assunto. Ela lembrou de mim do ônibus. Fazia pré-vestibular no centro. E eu estagiando na engenharia. Falava de violoncelo e eu ainda sonhando com a guitarra. Pensava em natação e eu ainda nos próximos jogos do Caxias na tv. Viajou o mundo um pouquinho e eu só fui a São Paulo ver os Rolling Stones uma vez. Mas usava aparelho como eu.
Quando lembramos disso da última vez eu lhe resgatei em mim. Mirei duas horas nos olhos negros e prossegui. Agora, se ela me dissesse que se apaixonou por mim e não me acha um príncipe, muito menos encantado e que não chegou a mim porque buscava ele, eu a amaria por toda vida. E foi o que ela disse. Por toda a vida.

quinta-feira, maio 15, 2008

Mário Quintana não me ajudou

- E como está o namoro?
- Não estamos namorando.
- Hm
Era uma espécie de teimosia do destino. O namorado atual dela era tudo o que eu não consegui ser. Podia até ser rei e eu um pobre diabo. Mas eu sabia bem que o mais importante ele não haveria de ter. Pois eu guardava comigo. Era o meu pesadelo bom. O beijo, a uns três ou quatro meses atrás, tivera sido roubado por mim num ato de desespero. Quis, sim, tacar alcool na fogueira quase fria. Nunca havia recebido um olhar de tamanho desprezo. E ela se foi.
Meu passado e eu. Eu não queria saber mais que podia. Eu estava de teco-teco nervoso, um tique meio doido. Pegava carona nas pessoas que passavam com o meu olhar só para não ter que encará-la sem poder tê-la. Corria os olhos pela bilionésima filial do McDonald´s, pelo segurança vesgo, pela calça jeans escura dela mesma. Acontece que éramos criminosos por nos amarmos e não estarmos juntos. Aliás, estávamos em outras. Ela quase noiva sem mesmo namorar. Voê, leitor, não entende se não afeito a dogmas. E eu, sei lá. Deu-me um acesso voluntarioso e infindável de covardia. Corria mais os olhos pelos quadros expostos em preto e branco do passado da minha cidade. Santa história. Quer saber? Eu voltei a abrir a boca, o coração...
- Eu ainda te amo, menina. Eu ainda te amo! Não te amo pouco, te amo ainda mais.
E ela olhou. Olhou novamente. Se atrapalhou nos passos. E olha que estava parada. Olhou ao redor. Me aproximei. Estava com blusa rosa e ela de verde. Rompia nos pés uma vontade de correr o mundo com ela furtada a tiracolo. E foi de vez em vez que os lábios pareciam ímãs. Mas o beijo era exatamente aquela parte do íma que repudia. As bochechas grudavam e as bocas não se permitiam. O que é que o bom Mário Quintana diria a ela? Diria para morrermos.
- Morrer? Tá louco?
- Nunca leu Mário Quintana?
- Li, sim.
- Mário diria...
- Gosto de vida.
- Mário diria que é tão bom morrer de amor... e continuar vivendo.
- Estou grávida do meu noivo... E Mário Quintana saberia que existem muito mais coisas além de amor. Chegamos ao fim.

sábado, maio 10, 2008

Culpa do noticiário

Que me faz sumir do mundo.
É uma criança que morre
E muita gente que surge
Parecem nascer da tragédia sensacional
Justiceiros do aparecer
O absurdo fantástico
Que é hoje viver.
Um mês de ausência
Sem amor em maio
É tudo culpa
Desse tal noticiário.