terça-feira, agosto 25, 2009

Confissões de um assaltante famoso

Eu fiz curso de ator para ser assaltante. Minha assepsia de criminalidade é essa. Não roubo vacas nem lojas. Faço assaltos. Sou fã do Danny Ocean e sei que muita gente tradicionalista também idolatra essas histórias. Se duvidar já frequentei os mesmos lugares que o George Clooney frequentou. Já estive nas maiores festas, já tive a maior celebração. Porque assalto para ficar mais rico mas tenho a meus negócios legais. O ilegal não engorda.
Não sou perverso. Não sei matar. Mal sei atirar. Meus assaltos são com armas sem munição. É claro que a arte dramática é o meu segredo. Sei os palavrões certos ditos na hora certa. Sei o local exato da cabeça que encosto a arma; sei que a metralhadora é mais convincente que uma pistola comum; e sei a hora de gritar e a hora de sussurar.
Me prenda para dar uma resposta para a sociedade. Meu medo maior não é ser preso. Meu medo maior é ficar pobre.

(Baseado em uma matéria publicada na edição n° 588 da revista Época)

terça-feira, agosto 18, 2009

Música espalhada

A
música
é
minha
e
se
espalha
por
toda
a
alma.
Mas
cadê
ela?
A
minha
alma.
(29/05/2006)

terça-feira, agosto 11, 2009

Imundo

Sou imundo. Ou o cara é limpo da cara lavada e espírito duvidoso ou o cara é um bendito de um imundo da alma balofa. Se Ateneu, o personagem dos livros meus, se acomete da ode às feias o que dizer do Sarmento, o cão de gravata que flutua pelos corredores de ouro da minha imensa favela? Se são 4:50 da manhã porque não caminhar pela orla da praia nula? Se chove, porque não tentar um banho de serenas gotas d’água doce e morna enviesadas pelo vento?
Sou careca. Não tenho idéias na cabeça que me façam criar penachos despenteados. Por tanto que já li, sou dos piores escritores que esse mundo já viu. Então porque escrevo? Para parecer que sei de alguma coisa. Já ouvi dizer que pintores borram seus quadros e são geniais por acaso. Eu borro os textos e já fui genial por algum dia.
Sou assassino. Mato os chatos de plantão. Tenho nome estranho, sim. Mas já ouvi dizer que em casos de insanidade mental o melhor é chamá-lo de genial.
Sou imundo, careca, assassino e genial.

sexta-feira, agosto 07, 2009

Pedido de um livro perdido

A literatura me traiu. Muito se deve ao canalha do Nelson Rodrigues. Uma história bonitinha ninguém quer mais contar. Que asco de nada. É um absurdo o que fizeram com as mulheres dessas minhas páginas. Valorizam as amantes e as mulheres finas são relegadas a contracapa. As prepotentes ganham vez. Estou, caríssimo, perdido.
De Ceci não me recordo nem os cabelos anelados. A mulher amava e o homem amava. A mulher e o homem amavam amar. Passou por Capitu, só uma ambigüidade assoladora. Por tantas páginas a fio, pelos rasgos e pelos embaraços vividos eu, um livro, tenho que lhe pedir coisas.
Acaso puder fale com os autores que sinto saudades da mulher Moreninha. Sinto saudades da Gabriela, Tieta, Julieta. Nelson me apresentou mulheres que não valem nem a bitoca muda. Mulheres que me apaixonei. Traem o marido com o cunhado. Apaixonadas por dinheiro são. Mulheres que bebem até cair. E, digo, até cair de boca. Nelson colocou a safadeza cheia de mel azedo nas minhas páginas. Marçal Aquino colocou a safadeza com a escatologia desmiolada do interior de ontem. O senhor pode, por favor, pedir aos caros meninos a caridade de me trazer novamente as lindas mulheres de sorrisos juvenis, cor de gis e voz de aniz?
Muito Obrigado. Uma página amarelada agradece.

segunda-feira, agosto 03, 2009

Cuido

Cuido das letras como se fossem minhas. Cuido da madrugada como se fosse dia. Só não cuido das notas porque não sou musico e nem professor.
Cuido do vácuo como se fosse físico. Cuido de carteiras como se fosse ladrão, ladrãozinho. Só não cuido da picanha porque sou mau churrasqueiro.
Cuido do Kanji como se eu fosse japonês. Cuido da data como se fosse calendário. Só não cuido da camisa quadriculada porque não sou armário.
Cuido do irmão como se fosse pai. Cuido da mãe como se fosse marido. Só não cuido do cuidado porque sou precavido.