domingo, abril 24, 2011

Desconhecidos do consultório

Queria porque queria parar de perguntar pro amigo gay, pra amiga louca, pro amigo bêbado e contentado em querê-la e não tê-la. Queria mesmo era um especialista. Tentou um amigo de uma amiga que, diziam, sabia aconselhar como ninguém. Como ninguém mesmo. Tanto que terminou os conselhos na cama com ele. Isso fazia alguns anos. Por aí jogou a toalha como se estivesse num ringue deserto e pediu um analista, o analista, no caso. Anote, o analista, meu caro leitor.
- Não fique mendigando amor. Quem gosta de amor é romancista. Quem gosta de migalhas é pombo. E quem fica só por ficar é economista. Economiza tempo nas intermináveis conversas vazias entre casais.
Ela, deitada no divã, demorou mais dois minutos pra entender. Entendeu que essa coisa de amar não tem explicação. E antes de sair da sala em completo silêncio o doutor emendou:
- Tenho dito. E o que eu digo é coisa de mentiroso. Eu minto que sinto muito bem. - disse o doutor.
Ela parou de entrar no consultório do namorado para consultas quando brigavam. Essa coisa de fingir que eram desconhecidos, de vez em quando. Casaram-se em novembro de 2008, assim que acabaram com a mania do cérebro se meter em coisas do coração.

terça-feira, abril 19, 2011

Tem gente

Tem gente que é de quarto. Tem gente que é de sala. Tem gente que é de rua. Tem gente que é la de casa.
Tem gente que não é de ninguém. Tem gente que é do mundo. Tem mundo que é meu. E tem gente que é de todo mundo e mais alguém.
Tem gente que é de verdades. Tem gente que é de mentiras. Tem gente que tem as próprias verdades. E tem gente que acha que meias-verdades não são mentiras.
Tem gente que é de longe. Tem gente que é perto demais. Tem gente que tá longe mas é como se estivesse mais que aqui perto, entende?
Tem gente que é de menina. Tem gente que é de menino. Tem gente que é de menina e menino, ao mesmo tempo.
Tem gente que é de ontem. Tem gente que é de depois de amanhã. Tem gente que é atemporal, de todos os dias e amanhã também.
Tem gente que bate na porta. Tem gente que toca a campainha e demora a entrar. Tem gente sai entrando sem cerimônia nenhuma.
Tem gente que é qualquer. E qualquer uma teria inveja de você. Tem gente que é amada. Ninguém é amada como você. Tem gente que pode reclamar de muita coisa. Tem gente que vai reclamar que veio aqui ler. Até você. Ah, quer saber? Vem logo aqui viver.

terça-feira, abril 12, 2011

Amizade masculina começando

Ambos se pegam olhando pra mesma mulher no meio da estação de metrô e dizem:
- Gostosa, né?
- Pra caralho...
Ponto final.

Já as mulheres...

terça-feira, abril 05, 2011

Poesia de Viagem

Sou rodoviária, você aeroporto.
Sou o pé e você o olho.
Sou o resto e você o corpo.
Sou alface e você o molho.
Sou o Luan Santana e o grito bobo.
Sou o carioca esperto e você o Brasil todo.

Você é a bicuda e eu o bico maior.
Você é a coca e eu, água.
Você é cosquinha e eu, barba.
Você é o beijo de tirar o fôlego e eu, isso e mais abraços.
Você é o nectar e eu, perdoe, a flor.
Você é a proximidade e eu a distância.
Você é o defeito e eu a ignorância.
Você é noite e eu, manhã.
Você é balada e eu, cinema.
Você é axé e eu, afroxé.
Você é daqui e eu dali.
Você é música e eu ré ou lá.

Só que eu sou você. Você é mais que eu.
Eu sou mar do interior, o sol da madrugada fria;
a brisa fresca do Ribeirão quente.
Eu sou a parte que você entende e não entende.
Sou a história mal escrita
precisando da sua tradução.
Se sou voador você é o céu inteiro.
Se você é essa certeza toda que pinta meu morro
eu sou o amor e você paixão.
Mas sou também paixão e você o amor todo.