terça-feira, dezembro 18, 2012

Pra caixinha

São dez reais

Pro caixa do supermercado

São 5 reais
Pra menina da padaria

São oito reais e cinquenta
Pro cabeleireiro

O do café
Pro lixeiro

O do pão
Pro pedreiro

Mais o troco do cinema
Pro moço da pipoca

Daí fui pagar a prestação da casa
Ninguém me deu caixinha.

terça-feira, dezembro 11, 2012

Amigo Oculto

O mais importante de dezembro não é o Natal, nem a virada de ano, nem a chegada do verão dia 21. O mais importante é o verdadeiro destino do décimo terceiro salário: o amigo oculto. Ou amigo secreto, como quiser. O que na verdade não é nada singular. São vários deles, bem no plural mesmo. O da empresa, o da empresa terceirizada, o da família do pai, o da família da mãe, o dos amigos vizinhos, o dos amigos da faculdade, o do curso, o da igreja e até do ônibus porque o engarrafamento é longo e a convivência é coisa séria.


Pra começar, quem inventou a história de ocultar o amigo deve querer na verdade deixar bem visível o inimigo. Ou não entende de presentes. Ou não entende de amigos. Porque, vá lá, experimenta recordar dos seus últimos? É um evento tão arriscado quanto casamento de ex-namorada. Dizem que nasceu com os povos nórdicos. Outros dizem que é um costume de povos pagãos. É uma brincadeira muito séria.

Todos estão - ou deveriam estar - tomados de boas intenções. Trocam papéis com nomes e, em outro dia, trocam presentes dando dicas para que advinhem o presenteado. Deveria ser assim. Mas aí vem você e se dedica a um bom presente por um bom amigo. Você vem com uma boa garrafa de vinho chileno e quando vê não é um amigo lá íntimo que te tirou e te dá uma xícara, uma toalha, uma camisa de gosto duvidoso. Já vi nobres jovens mudando caráter depois de presentes pequenos. Mas o pior nem é isso. O pior é se organizar, trocar horário de ônibus, faltar trabalho, brigar com a esposa, faltar ao futebol da semana para ir ao amigo oculto e a pessoa que deveria te dar presente estar, na verdade, ausente. Aí, amigo, é batata: trauma para vida. Tenho uma amiga que detesta amigos ocultos, outras surpresas e afins. Por três anos seguidos ela comprou mas não levou. No caso, deu presente e teve que se contentar com trocas espontâneas. Dito e feito, ela detesta participar dessas coisas.

Tem amigo oculto estragando amizades. E isso não é legal. Por isso há o jeitinho por trás do jeitinho do jeitinho da brincadeira. Existe aquela piscada marota pra pessoa que distribui os papeizinhos para que não deixe pegar um oculto nada amigo ou nem tão amigo assim.

A regra fundamental é que o segredo, obviamente. Mas é a regra mais iludida. Tem gente que quer trocar de papel. Acordos parelelos são feitos no submundo da amizade. São segredos encobrindo outros segredos que encobrem outros segredos em nome do segredo maior que, no final das contas, nem é mais segredo.

Certa vez ganhei uma camisa de pagodeiro. Nada contra o ritmo. Mas nada a favor do estilo. Aí você não sabe se o presente é pra ser inesquecível (pode reparar que esse eu não esqueci mesmo), se é para fazer piada, se é para ser útil ou se é pra ser somente.

Das duas, uma: ou nem tudo que é escondido é mais gostoso ou estamos fazendo isso errado.

sexta-feira, junho 15, 2012

Não como Scarlet

Não existe mulher como ela. Não como ela. E isso é uma pena. Deveria haver uma em cada bairro. Ou pelo menos de cada nacionalidade. Porque, confessamos heteros e homos, do tipo mulher e do tipo homem, que aqueles peitos são de fazer andar o trânsito. Porque parado já está. Aquela boca carnuda e despretenciosa são para fazer qualquer ateu acreditar em Deus; para fazer qualquer casto virar fumante; qualquer doente voltar a beber. E falo por todos os homens de mal e de bem. Existem mulheres e existem as Scarlets. Vamos resumir então tudo no umbigo de uma mulher: o da Scarlet. Sim. Porque quando elegemos o umbigo pedimos ele aqui, bem perto. Bem junto. Umbigo com umbigo. E como não podemos separar o umbigo do resto por conta da punição severa chamamos assi todo o resto junto. Chamamos mais junto, a Scarlet. E vem ela toda de brinde, com ou sem taças. Ela não daria independência para o umigo só por medo de nós.
Mas em Nova Jersey, ali pelos lados do Jacobsen Park, naquele oito de junho tirei os óculos escuros e não disfarcei. Num lugar onde a praia é pra dentro, onde tudo é meio certinho demais eu vi Scarlet. Passei a desacreditar nos olhos ou a acreditar mais no cinema. No Rio eu vivo bem, minha praia é voltada para o mar e eu comia muito bem. Sabia que aquele cinema de Irajá era o melhor do Rio de Janeiro. Mas não sabia que mentia tão bem.

quinta-feira, maio 24, 2012

"Apaga e tira outra!"


Na revolução da captação de imagens o surgimento das máquinas digitais enterrando a necessidade de revelação de filmes tornou a foto uma coisa irrelevante. Que frase bonita! Desculpe, amigo que sabe ler, é mania de jornalista. Digo que em eventos, finos ou não, velhos e novos tornam-se cada vez mais adeptos ao estilo descartável das fotos. A foto ficou ruim? Apaga essa e tira outra. Simples assim.
Sem devaneios filosóficos. Sem pena da imagem evaporada. O maior problema dessa cultura decaptadora é a sua fuga das imagens. Talvez não seja insenssibilidade. Nem seja também narcisismo. Apesar de fotos e narcisos estarem eternamente casados. O problema é a facilidade. Se tirar foto já foi mais elaborado e valorizado agora, tá mais fácil que música ruim fazendo sucesso. Eis que somos agora capazes de provar um café e aplicar a mesma teoria. Joga fora e tenta outro. Ao comprar um aparelho de DVD e deparar-se com um aparelho de Blu-Ray: descarta e compra o novo. Ao ser ter o celular levado em um assalto - após compreensível acesso de raiva -, apaga e compra outro. Com carros, jogos, empregos e amores todos apagam e arrumam outro. Está tudo muito fácil. Paradoxalmente, não tá fácil pra ninguém.

quinta-feira, maio 17, 2012

Atropelamento


Lia o livro mais recente de um velho amigo. Era bom. Não o meu amigo, que não vem ao caso, mas o livro. Era bom, fazia grudarem os olhos. Era ruim ler e esquecer do que estava do lado de fora. Esse ruim acontecia toda hora. Olhe que nem sou dos mais dispersos. Passava do ponto de ônibus. A carne ao fogo passava do ponto. Levei pontos no queixo depois de cair por ler e andar por calçadas ao mesmo tempo. Não via o tempo onde quer que fosse. Nem que fosse cegueta. Lia ao volante dessa vez. Era a Dutra, altura do Carrefour de Belford Roxo. Desculpem-me os leitores preocupados com a propaganda. Não ligo. Ninguém comprará sabonete no mercado por conta dessa leitura. Compraria por estar em promoção. E não vale a pena. Dutra nesta altura, sentido Rio de Janeiro, para quem conhece, nem vale a pena passar. Muito menos às sete e onze da manhã de quinta-feira. Dia nublado, buzinas agitadinhas demais. Sinfonia educada de todo dia. Baixei o livro e o vidro. Pessoas mandando umas e outras para um lugar com endereço completo, no meio de alguma coisa. Vidro levantado, ar-condicionado regulado. Livro no volante.
Atropelei, fui multado, julgado e condenado. Calma lá. Explico. Depois de uma hora e trinta metros percorridos resolvi entrar em uma das ruas pra fugir. Na segunda esquina já parava congestionado em um sinal vermelho demorado. Peguei o livro novamente. Mania de pisar na embreagem e deixar engatada a primeira marcha. Sinal verde brilhou, pé ficou mais leve inconscientemente. Amigo leitor, esqueça os detalhes. Dei partida e atropelei alguém. Fiz tudo certinho. Era uma mulher. Uma praga foi jogada. Fui condenado a correr atrás da vítima. Sou o sujeito mais estranho que atropelou uma mulher e com ela ali deitada e dolorida senti tesão enorme. Uma perversão quase criminosa. Atropelamento é crime. Erotismo em hora errada é prisão perpétua? Confere a legislação porque eu me fudi em pontos na carteira, notas a menos no bolso e culpa dupla. A perversão, sensação maior, era quase dolosa. Era culposa. Afinal, aposto meus dentes que ela também sentiria alguma coisa também. Estava já caída por mim. Estava já nos meus pés.

terça-feira, março 27, 2012

O Cara Que Não Publicava Livros

Este título acima é o que dá nome ao meu primeiro livro. Sonho realizado. Para quem me acompanha e gosta do que escrevo, compre essa primeira amostra. E que a carreira siga!


O processo é totalmente seguro. A impressão é feita por demanda. Comprou, imprimem e entregam. Sem sobras. A natureza agradece. E eu também. E então, conto com vocês?

segunda-feira, janeiro 30, 2012

É bamba e samba

É mãe e puta. É covarde e luta. É burro e leciona. É mulher e não dá. É virgem e sexóloga. É tubarão e truta. Nem surda nem muda. É errado e nem muda.
É contradição e coerência. É ausência e co-presença. É subsídio em esmola. É macho e preconceituoso mas vê beleza com bola. É palhaço sem nariz. É filial sem matriz. É perigoso e poddle. É articulado e twitteiro. É informado e não vê TV. É oculista e não vê. E não ê.
É rato e limpeza. É campeão de xadrez e lerdeza. É anarquia e obediência. É governabilidade e competência. É escroto e delicadeza. É samba e ditorção. É poema e lição. É poesia e lixão.
É cria e criador. É tímido e ator. É relutância e complô. É oval e corredor. É pilantra e sofredor. É aquarela em cor. É bamba. É samba. É caminhão de cerveja. É do bolo a cereja. Não é tão bamba quanto eu mas é samba e eu te respeito. É porra e nenhuma. É tudo mentira, é o amor. É o amor!

sábado, janeiro 21, 2012

Sem você eu não vivo, diz a música

Sem você eu não vivo, diz a música. Nem com você eu tenho vivido. Esse conceito de vida é muito estranho mesmo. Vê a graça que é viver sem ninguém. Tem? Nem tem. E com alguém? Depende. Só se for pra fazer muitas coisas, tipo fazer neném. Mas aí, amigo, é dádiva ou castigo. E é pra toda vida. E como viver? Aí vai querer mesmo viver sem ela. É um conflito. E a música perde todo o sentido. Ou faz uma música nova dizendo que "Sem você eu vivo sim". Ou não vive. Para de ouvir pagode ruim, ouvido poluído.

Casamento da mãe de todo mundo

Vamos lá. É fácil de ver. É fácil de pensar. Uma mulher e um homem. Digamos que o homem seja eu. Me encaixo nessa história. Sou mais convincente escrevendo na primeira pessoa. Seguimos então uma contemporaneidade simples. Não tão simples quanto a palavra que usei.
Sou o homem, não necessariamente belo e teu afeto. Você é meu desafeto. Tudo certo? Para qualquer coisa não é preciso amar. É preciso odiar um pouco, temer. Tudo certo então para namorarmos, casarmos e nos divorciarmos assim como manda o figurino do teatro da vida moderna. Afinal, ser feliz saiu de moda.
Ah, sim, esqueça qualquer paradoxo do moderno com o contemporâneo.

Mar de Trindade

Já vi muita gente sair do mar. Já vi até o que não devia. Tanto lá quanto cá. Tanto Arraial quanto Itacuruçá. Já até passei por Ipanema e me apaixonei algumas vezes. Não sei se isso é maluquice por existir ou apenas sinceridade por eu dizer. Sempre poesia. Sempre águas calmas e uma mulher saindo do mar. Essa não. Eu que saía do mar. Ela que estava poética. Como se fosse ela o poeta e eu a poesia. Fica meloso demais por ler mas, se me permite, é só assim que posso dizer. E nunca pensei em como seria bom encontrar alguém na areia. Eu que via sentado da areia todas as garotas de Ipanema saírem envergonhando o sol e me tornando cada dia mais bobo não esperava ser esse que envergonhava o resto da orla por ser amado, por assim dizer. Eu que era tão imperfeito hoje sou apenas o mais gostoso defeito de alguém. E que bom é ser!
Quisera eu poder chegar perto dela. Quisera eu encostar naquela boa pequena e carnuda. Quisera eu poder formar com ela o casal mais bonito da praia. Mesmo que não houvesse quase ninguém. Quisera eu, meu amigo. Quisera eu.
O mar desse lugar parece que segura pelo braço e manda passear sem se afogar. Convida para um chopp e não deixa pedir a saideira. É como um lugar que só existe pra quem acredita. Chove e faz sol com uma facilidade como se trocasse de porteiro o prédio. Quando um está no poder, chove torrencialmente. Quando o outro está, faz sol de verão. Lá é assim, acredite em mim.
Saí da água assim despretensioso. Só que vi pretensão demais nessa morena de olhos puxados para que eu não acreditasse tolamente que não existe, ou que possa esgotar o amor. Existe sim e pode ser inesgotável. Pra mim ela veste negro. E nunca foi tão boa a combinação de sol, mar e mulher como vi em mais uma praia. Desta vez era Trindade, bem ao sul do estado do Rio de Janeiro.

A fuga das cores

Meu papel tem o verso colorido;
E que trabalho nos dão as cores!
Ventadas desempregadas sempre pra cá
O mundo, tadinho.

Meu papel tem o verso
Que é o inverso do que escrevo.
O contrário da folha de papel
A estrofe ou um verso colorido.

Mas meu verso tem papel
Não é isolado nem bandido.
Uma vida tão babaca
Que as cores fazem fila até pra isso.