
Perdi a idéia do que ia escrever. Deve ser a falta de sentidos. Coisa de louco. Coisa do mundo.
É natural, tudo anda se perdendo mesmo. Não é mais o que parece. Os inteligentes não perdem a idéia. Logo não faço parte desse grupo. Nem Cleópatra era bonita. Sabia? Beleza inventada por Shakespeare. E a paz? E as uvas? A primeira é somente uma pomba branca de final de ano em vinhetas da Globo; a segunda se iguala em importância à primeira. Uvas e paz, pombas e frutas... João Hélio e uma criança pedindo dinheiro no trem.
Perdi também a sensibilidade com o barbarismo. Perdi a paciência com o "Paraíso Tropical" (nova novela das oito, não tá sabendo? Não perca!). Perdi o tesão pelo esquerdismo utópico que normalmente os jovens fazem transbordar no estilo "Igualdade, empregos, justiça e etc!".
Fernando Gabeira, sim, aquele maconheiro viado gente fina mais digno que qualquer homem que se intitula homem por aí, disse assim:
"No passado, a esquerda era o bem e a direita, o mal. Mas a esquerda chega ao poder e faz as mesmas coisas. Então, um não é o bem absoluto, nem o outro é o mal absoluto."
É justamente assim. Chico, o Buarque, é excelente compositor. Não necessariamente uma pessoa acima de qualquer suspeita. Nem quem vos escreve, o é.
Todos encenam. Vivemos num grande estúdio de cinema, de TV ou palco de teatro bem exagerado. Antigamente ibope era conquistado com historinhas singelas, marchinhas ingênuas de carnaval, moças que eram mesmo moças, futebol com gols apenas, ordem praticamente em ordem. A necessidade faz o ladrão. A necessidade aumentou a carga de adrenalina e realidade. Fez-se mais uma vítima do Rio de Janeiro.Não suporto filmes mentirosos. Tudo cada vez mais real. O mundo, aquecido. E eu, cada vez mais perdido.