quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Eu perdi


Perdi a idéia do que ia escrever. Deve ser a falta de sentidos. Coisa de louco. Coisa do mundo.

É natural, tudo anda se perdendo mesmo. Não é mais o que parece. Os inteligentes não perdem a idéia. Logo não faço parte desse grupo. Nem Cleópatra era bonita. Sabia? Beleza inventada por Shakespeare. E a paz? E as uvas? A primeira é somente uma pomba branca de final de ano em vinhetas da Globo; a segunda se iguala em importância à primeira. Uvas e paz, pombas e frutas... João Hélio e uma criança pedindo dinheiro no trem.

Perdi também a sensibilidade com o barbarismo. Perdi a paciência com o "Paraíso Tropical" (nova novela das oito, não tá sabendo? Não perca!). Perdi o tesão pelo esquerdismo utópico que normalmente os jovens fazem transbordar no estilo "Igualdade, empregos, justiça e etc!".

Fernando Gabeira, sim, aquele maconheiro viado gente fina mais digno que qualquer homem que se intitula homem por aí, disse assim:
"No passado, a esquerda era o bem e a direita, o mal. Mas a esquerda chega ao poder e faz as mesmas coisas. Então, um não é o bem absoluto, nem o outro é o mal absoluto."
É justamente assim. Chico, o Buarque, é excelente compositor. Não necessariamente uma pessoa acima de qualquer suspeita. Nem quem vos escreve, o é.
Todos encenam. Vivemos num grande estúdio de cinema, de TV ou palco de teatro bem exagerado. Antigamente ibope era conquistado com historinhas singelas, marchinhas ingênuas de carnaval, moças que eram mesmo moças, futebol com gols apenas, ordem praticamente em ordem. A necessidade faz o ladrão. A necessidade aumentou a carga de adrenalina e realidade. Fez-se mais uma vítima do Rio de Janeiro.Não suporto filmes mentirosos. Tudo cada vez mais real. O mundo, aquecido. E eu, cada vez mais perdido.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Domingo hilário


Sábado a noite. O nervosismo de pré-vestibular me fez ter idéias de métodos mirabolantes para fazer uma boa prova no domingo de manhã. Não vou contar a ninguém. Assim não há pressão (sim, porque até um "Boa sorte" é uma forma de pressão). E assim o fiz.

Domingo acordei cedo - até demais - bebi água e pronto. Saía calmamente pelo quintal. Cheguei no portão e vi o jornal jogado. Peguei-o e levei até a janela da sala. Lá estava a criatura mais linda e engraçada com a cara amassada e embriagada de sono perguntando onde eu ia àquela hora. Eu disse para minha mãe que estava indo fazer uma das milhões de provas. E só.

Fui. Minha caneta falhou na hora H, implicaram com meu boné, a prova tava complicada, enfim, foi uma prova normal. Pouco importa a prova em si.

Cheguei em casa por volta de meio dia e pouco e logo encontrei meu irmão perguntando onde eu tava que demorei esse tempo todo.


- Ué, fazendo prova.

- Prova? E você avisou?

- Quando saí de casa falei pra minha mãe. Ela tava toda torta de sono.

Os dois se entreolharam e ao mesmo tempo:
Ahhh tá explicado.
Assim que entrei na cozinha ela berrando que eu não tinha ido comprar pão, que era muito estranho, que demorei demais e que eu nunca mais faria isso. E falou, falou, falou...


- Poxa, você foi comprar pão. Fiz o café, sentei na mesa e fiquei esperando. ATÉ AGORA, THIAGO!

- É mãe, voce já é meio surda e com sono então. Eu fui fazer prova do vestibular e te falei na hora que saí.- Ih, entendi errado.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Reza a lenda da satisfação


Reza a lenda que num fim de tarde do mês mais monótono do ano os raios de sol rasgarão as nuvens sem-graças carregando coisas diferentes. Trarão esses temperos de vida até você. Vais ler livros que sempre detestou. Vais ter o prazer de conversar (e gostar) com quem não passava de palavras de saudação. Reencontrará certos sorrisos e dará tchau sem remorsso algum. Vai colorir as fotos ao invés de deixa-las preto e branco. E nesse furo nas nuves sem-graças vais reparar em algo além, uma letra desenhada e fresca. Vai subir no parapeito que encontrar.

E quando sentir uma dor gostosa na batata da perna vai ver que caiu da cama e acordou de um sono. E mais: vai ver que tudo brilhou novamente no sonho e não foi a toa. As perguntas e as respostas estão dentro de nós mesmos. Surpreender-se com mais do mesmo é tão bom quanto carnaval em Salvador.


E isso não é lenda alguma...