terça-feira, outubro 19, 2010

Mulher de vinte e cinco

Só queria perguntar a idade. Apostava consigo que ela tinha vinte, no máximo. Foi ao encontro dela. Driblou dois, passou no meio da dança do terceiro e no quarto tropeçou bem de leve. Nada demais. Cutucou-a no ombro esquerdo, aproximou do ouvido pra que ela pudesse ouvir no meio do turbilhão. Antes disso lhes conto o início. Ele nunca saía pra boates. Só não gostava. Não bebia, fumava ou dançava. Era meio fofinho. Esquece, era acima do peso, gordo, referência pra quem vê e gigante pra quem abraça. Exagero, era um gordo quase magro, um esbelto quase obeso. Seu sorriso era um cartão de visitas, um samba-enredo com direito a nota dez. Por promessa, saiu com os amigos.
Foram para Juiz de Fora. Apenas três horas e meia de carro pela estrada. A contragosto entrou na boate. Bebeu uma caipirinha. Pensava que não poderia ser brasileiro sem ter provado ao menos uma caipirinha. O covarde virou corajoso, o tímido virou dançarino e o recatado virou conquistador. E voltamos, então, ao ouvido da menina.
Passaram-se algumas idas, algum desdém, algumas mexidas no cabelo, alguns olhares e algumas boas tiradas. Beijaram-se, trocaram MSN e sumiram. Acordou em casa, sozinho e com sensação de que tudo não passara de sonho. Mas não passara. Uma semana inteira de conversas pelo computador. O que era respondido com olhares e em, no mínimo 24 horas, é respondido já pela internet. O blog declara, o facebook divulga e encontra, o picasa mostra e o MSN permite. As conversas sobre a família, os medos quando criança, o prato preferido, a música que toca e o ex-namorados que passaram bem são coisas preenchidas pelo virtual. E nessa semana inteira conversaram e se apaixonaram assim mesmo pelas 18" daquela tela. É mais fácil ser verdadeiro por ali.
Dessa vez pegou um ônibus na sexta-feira a noite. Chegando em Juiz de Fora ela o recebera naquela rodoviária pequena e fria. O abraço e beijo mais quentes. Tiveram a primeira noite. Nada de errado. A semana inteira de conversa pela internet preenchia o espaço equivalente aos meses que os casais se conheciam. Os e-mails diários confidenciavam os sonhos. Uma distancia facilmente derretida. Um chocolate em cima do corpo, como molde de um sorvete a ser mordido.
Ele escondeu-se atrás da porta do quarto. Chegou sem avisar. Telefonou para o celular dela assim que percebeu que ela havia entrado na casa. Pediu pra que fosse ao quarto. Quando ela entrou a imagem dele em tempo real era transmitida para um monitor de 40" enfeitado com corações. Na tela ele a pedia em casamento. Pediu pra que ela se virasse para que o beijo fosse de verdade. Nada mais perfeito que um pedido virtual e um desejo real. Os cantinhos não são tão mais frios e distantes. Permaneceram conectados com esse péssimo trocadilho vivendo, como diria Cazuza, o bom do amor seja de mãos dadas ou clicando por aí. Ah, e ele perdeu a aposta. Ela tinha vinte e cinco anos. Mas nem parecia.

5 comentários:

Gabrielle disse...

First =)
Adoreiiii o texto! Super lindo o pedido de casamento!
Essa fase de compartilhar nossos sonhos, medos, desejos é muito bom. Viver tudo isso é o que faz a vida ser tão boa.
beijosss

Bia disse...

Como sempre, mto boa.
Pedido de casamento super original =]

Difícil dizer não!

BEijo

carolbardi@hotmail.com disse...

Esses dias estava conversando com umas amigas sobre pedidos de casamento. Ahaha. Esse é muito original, vou contar para elas. :)
Mais um texto lindo, envolvente, apaixonante. Parabéns mano, mais uma vez e sempre. Adorei e queria ser a mulher de vinte e cinco anos do conto. Beijos, te amo

ana cruz disse...

thi, parabens!! Mais uma vez, texto otimo,mt gostoso de ler...

beijosss amigo aodro vc!!!

Alan Pedreira disse...

Fera demais!!!