sexta-feira, setembro 18, 2009

Marcone - Fim

Rodrigo era um bom homem. Salvo suas crises de responsabilidade social, era sim, um bom homem. Mas, como tudo na história, só percebemos quando estamos atemporal ao que se vê. Como Santos Dumont, Van Gogh e outros, reconhecidos quando já era tarde demais. Era uma tarde fria, chuvosa, um dia grafite que não se desenhava muito bem.
Não sou uma pessoa lá recheada de criatividade. Pois bem que é verdade que existe o tal Marcone (que o Rodrigo conheceu depois). Na hora não consegui inventar nome. E hoje sei que o meu inconsciente gritava mais que tudo.
Marcone, por fim e sem meandros, foi meu amante. E os amantes não sabem esconder o tamanho do fogo que os queima. Sempre existem incêndios. Certa vez em um casamento da irmã de Rodrigo, em uma fazenda grande e linda, construção do Séc. XV. Marcone estava lá. E demos um jeito de nos encontrarmos num dos cantos distantes do lugar. Que mal havia, não é mesmo?
Rodrigo ainda tinha na cabeça o dia das flores. Perseguia Marcone. No casario distante cercou tudo com querosene. Pôs brasa no que era pura brasa. Não deu tempo de me matar. Marcone estava com outra de vestido bem parecido com o meu. Era um mulherengo, não nego. Mas eu não me importava. Eu não era totalmente dele. Justo que não fosse meu.
Rodrigo saiu do casamento sem comentar uma faísca do que houve. Dormimos lado a lado. Quando acordei não existia mais Rodrigo. Nem o mulinha, nem suas cuecas penduradas ao banheiro.
Meia hora depois recebi flores vermelhas sem cartão algum. E por esses vinte anos em todo dia 17 dos meses eu recebi a encomenda sem cartão, sem homem.

Marcone

Resolvi fazer. Saí de casa assim que ele foi buscar o carro no mecânico com aquele velho problema de suspensão traseira. A suspensão do Rodrigo também andava devendo. E por tanta falta de animação eu o suspendi por uma semana. Claro, sexo não é a rotina de entrar e sair de um quarto. Suspenso, desde então. Mas hoje termina o castigo. E ele foi buscar o nosso querido mulinha para fazermos algo diferente: Motel. Oras, não preciso comentar a surpresa que é isso.
O Rodrigo é um bom namorado. Eu confesso que também sou boa namorada. Eu sou só dele. O ruim é ele saber disso. Quando um homem tem essa certeza é o início do fim. Por isso fui na floricultura e comprei lindas rosas vermelhas. Marquei para a meia hora seguinte.
Rodrigo trouxe a mulinha para o nosso evento tão aguardado. A buzina não funcionava. Mas nem era preciso. O ronco do motor já avisava da esquina a presença.
Entrou em casa, falou umas conversas meio surdas que eu só concordava fingindo entender. A campainha tocou. Pedi que atendesse, claro. E trouxe o buquê. Entregou-me e caminhou para o banho. Achei que o mundo havia acabado com a falta de reação.
- Que porra é essa? Quem é Marcone?

E tivemos a melhor noite de amor de nossas vidas. Engravidei.