- E como está o namoro?
- Não estamos namorando.
- Hm
Era uma espécie de teimosia do destino. O namorado atual dela era tudo o que eu não consegui ser. Podia até ser rei e eu um pobre diabo. Mas eu sabia bem que o mais importante ele não haveria de ter. Pois eu guardava comigo. Era o meu pesadelo bom. O beijo, a uns três ou quatro meses atrás, tivera sido roubado por mim num ato de desespero. Quis, sim, tacar alcool na fogueira quase fria. Nunca havia recebido um olhar de tamanho desprezo. E ela se foi.
Meu passado e eu. Eu não queria saber mais que podia. Eu estava de teco-teco nervoso, um tique meio doido. Pegava carona nas pessoas que passavam com o meu olhar só para não ter que encará-la sem poder tê-la. Corria os olhos pela bilionésima filial do McDonald´s, pelo segurança vesgo, pela calça jeans escura dela mesma. Acontece que éramos criminosos por nos amarmos e não estarmos juntos. Aliás, estávamos em outras. Ela quase noiva sem mesmo namorar. Voê, leitor, não entende se não afeito a dogmas. E eu, sei lá. Deu-me um acesso voluntarioso e infindável de covardia. Corria mais os olhos pelos quadros expostos em preto e branco do passado da minha cidade. Santa história. Quer saber? Eu voltei a abrir a boca, o coração...
- Eu ainda te amo, menina. Eu ainda te amo! Não te amo pouco, te amo ainda mais.
E ela olhou. Olhou novamente. Se atrapalhou nos passos. E olha que estava parada. Olhou ao redor. Me aproximei. Estava com blusa rosa e ela de verde. Rompia nos pés uma vontade de correr o mundo com ela furtada a tiracolo. E foi de vez em vez que os lábios pareciam ímãs. Mas o beijo era exatamente aquela parte do íma que repudia. As bochechas grudavam e as bocas não se permitiam. O que é que o bom Mário Quintana diria a ela? Diria para morrermos.
- Morrer? Tá louco?
- Nunca leu Mário Quintana?
- Li, sim.
- Mário diria...
- Gosto de vida.
- Mário diria que é tão bom morrer de amor... e continuar vivendo.
- Estou grávida do meu noivo... E Mário Quintana saberia que existem muito mais coisas além de amor. Chegamos ao fim.
6 comentários:
É. Fim.
Voltar a escrever?
Doido.
Beijos!
Vivemos a mesma história.
Isso é fato. Consumado.
Beijo.
Thiago, eu deletei o Casuale e te espero na casa nova para um lanche...
:)
É como dizem...
Todo fim pode ser um começo.
Beijo.
Textos tão bons que eu nunca sei o que comentar! ;)
Beijão, sumido! rs
A realidade muitas vezes nos tomam a poesia. Triste, né?
Beijo meu.
Postar um comentário