quinta-feira, outubro 15, 2009

Interrompida

Vestia-se bem. Bem escondido, diga-se de passagem. Parecia mais uma passagem de um filme que já é lançado direto para as piores locadoras. O homem mais era um aluguel de clichês mal-feitos de normalidade que outra coisa qualquer. Nunca soava sincero. Mas dizia que a adora. Pelo menos a desejava sem esconder de ninguém.
Já ela se adorava. Pedia a si mesma que se fizesse o favor de não ficar feia. Era bonita. E além disso gostava muito de ser bonita. Comprava as roupas cujas medidas anunciavam seu corpo inteiro. Explorava cada paraíso de suas curvas. Até as orelhas provocavam o giro astuto dos homens.
Começaram a ter os rumos cruzados. Uma vez ele já estava no ônibus quando ela entrou. Não tirou os olhos dela. Reparou em seus horários. Era sempre dez e vinte e cinco da noite. E reparou também no ponto final dela. O bastardo certa vez saltou no mesmo ponto que a branca. Seguiu seus passos. E a mulher nada reparava. O homem marcou o dia.
A noite seguinte era úmida. Choveu fino pela tarde inteira. Depois disso só ressoava o molhado num som seco. Saltaram no mesmo ponto, ela antes dele. Caminhava sempre pela mesma rua movimentada e, logo após, por uma ruela cheia de cantos. Na esquina segunda o homem aproximou-se falando do tempo, do trânsito, da hora, do perigo. Falou da beleza dela. Do decote convidativo. Perguntou se tinha namorado. Não importava ter ou não ter. A rua tinha trezentos metros estreitados entre prédios altos e calçadas mal planejadas. O homem começava a tocá-la sem cerimônias. Dizia estar frio. Dizia protegê-la. Dizia-se apaixonado. Ela já se desesperava. Tentou correr e ele já a segurava pelos braços com brutalidade. Dava tapas na cara. Mandava ficar quieta. Até que ela caísse no chão.
Suja e com a alma destruída a branca chegou em casa. Sem ninguém reparar pegou uma roupa e desabou debaixo do chuveiro. Até hoje não se sabe porque a mulher veste roupas largas. Nem sabe-se até hoje separar o que era lágrima do que era água

9 comentários:

Tatiane. disse...

Adoreeei muito o texto! Me deixou vidrada pra saber o que ia acontecer, e confesso que gostei por ter quebrado minhas expectativas :)

Unknown disse...

ADOREI!Deu vontade de ler várias vezes..já adorava seus texto agora virei fã mais ainda! =]

Bia disse...

Uma história triste muito bem contada... =]

Unknown disse...

Thi, você é demais... essa criatividade única.. leio e adoro, como sempre!a história é muito convidativa a ler até o fim.. amei!

Anônimo disse...

Interessante observar como a forma da narrativa (tendendo a prosa poética) leva ao leitor a se surpreender com uma trama que escrita de outra maneira seria previsível.

Quanto ao conteúdo em si, resta a pergunta: de onde surge tamanha monstruosidade?

carolbardi@hotmail.com disse...

O meu orgulho pelo meu poeta deixa-me sem palavras. Mais um grande texto, de uma grande criatividade e escrito do jeito que só você sabe. ADOREI.

Amo você. Saudades.

H L disse...

coitada, meu Deus! =O

muito envolvente a história, prendeu minha atenção!


ADOREI

Unknown disse...

Bem forte essa história!
Mais uma vez me fez imaginar toda a situação.
um final triste para quem não merecia.
Foi uma boa leitura!

maria elisa disse...

Continua escrevendo muito ein rapaz.Tudo bem? saudaes.Bjs.