domingo, janeiro 17, 2010

Sem vida

Rodei tanto o mundo que nem sabia aonde exatamente estava acordando naquele dia. Pelo menos dormia sozinho, o que era especial. Ninguém no quarto. A ultima era bamba, do samba cubano. A penultima, bomba, de sangue ismâmico. Nem bomba nem bamba. Olhei pela janela e havia paz. Paz com solidez, temperatura baixa e queda brusca do céu. Era neve. Mesmo assim desci os dois jogos de escada, esnobei a friaca e invadi o primeiro bar. Era um Pub americano. Pedi um café gelado.
Consenti à memória o direito de ter folga naquele dia. Não consetia aos ouvidos não escutar as conversas ao redor. Haviam duas mulheres meio masculinizadas, maltratadas mesmo, num ponto atrás de mim, que já estava sentado ao balcão. O inglês era falado meio mastigado, bem maltratado mesmo. Mas entendia algumas coisas. Das piores era quando uma delas se dizia infeliz com tudo e que não acreditava em felicidade. Além delas, um casal feioso no outro canto brincava de serem infantis, uns bêbados jogavam bilhar, outros cinco vidrados na tela da reprise do jogo final do ano retrasado. Na outra tv o noticiario nos lançava o terremoto no Haiti. Ninguém ligava. Os que viam comentavam de justiça. Justificavam a indiferença por terem conhecido haitianos mal educados por varias vezes.
Um tremor foi sentido. Algumas taças foram lançadas ao léu. Espalharam cacos de vidro pelo chão. Nove segundos após minha visão tremia absurdamente. Não tinha equilibrio. Depois disso era como se eu tivesse apagado.
A primeira pessoa a me acordar foi um enfermeiro de meia idade. Não, de idade inteira. Completamente vivo. Só me informou que eu havia bebido demais. Só isso. E que eu havia entrado em coma alcoólico. E que meu princípio de úlcera (que eu desconhecia) havia evoluído muito bem. Evoluiu para uma úlcera de ultima geração, bem encorpada e prontinha para acabar comigo. Preferia o tremor. É o meu Haiti por doses homeopáticas. Voltei ao Pub uma semana depois. Escombros. Só escombros e uma placa que dizia "Without life".

3 comentários:

Bia disse...

Instigantee!
Gosteii!

Beijoo

Unknown disse...

Diferentes formas de se interpretar, mas creio que uma prevaleça.

Fabio Valentim disse...

Realmente que a vida é uma caixinha de surpresas.