quarta-feira, dezembro 14, 2011

Assento Dezessete

Eu aqui no meu assento dezessete da fileira F do cinema bem ajeitadinho de um shopping da zona norte do Rio paro e penso em felicidade. Uns param de ler aqui. Outros, sei lá. Felicidade, amigos. Penso em feliz cidade, feliz idade e em como chegar a isso. Daqui desse assento, neste pedaço do universo, nesse planeta caótico e fascinante, neste canto do mundo que eu nem sei e nem saberei onde começa e onde acaba, é gostoso ser livre. E é isso que me encanta. É que em milhões de pessoas, em trilhões de cruzamentos, em inúmeras possibilidades casuais e quase casuais que você encontra alguém que te faz algo diferente é de se importar. Imagina quando alguém atravessa a rua da sua vida, passa da sala de visitas do seu corpo, encosta na afinidade? Com tanto sexo casual não pode ser por acaso quando você se apaixona. E se for, dê tudo por isso. A intolerância por quem ama é tão descartável quanto a fome que você sente depois de um dia de trabalho. É essencial amar mesmo que você não acredite em caras-metades. Vá dizer que é muito cômodo ter a pessoa da sua vida vivendo no subúrbio do Rio de Janeiro ao invés de ser na cidade menos populosa da Lapônia ou da Croácia ou da Colômbia ou de Mercúrio, sei lá. Ao ver um casal andando sem as mão dadas você pode ver um casal brigado e outro mais atento pode ver que na verdade ele procura algo no bolso da própria calça e ela ajeita sutilmente o anel. Depende do que se quer ver. Depende do que se quer ser.
Eu aqui no meu assento dezessete da fileira F nem quis ver o filme mais. Olhei para a pessoa do assento dezoito e vi o quanto eu devia confessar que amo sem vergonha nenhuma. Sim, sem vergonha nenhuma.

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