- Me dá um trocado? Não comi nada hoje.
Apalpou os bolsos fazendo a cara de dissimulado desavisado já negando.
- Só tenho cartão.
O pedinte recuou pela milésima vez. O alvo do pedido chegou em casa em cinco minutos, entrou na cozinha e jogou no lixo o resto do bolo que não foi do seu gosto.
O pedinte ajeitou o papelão em cima de um paralelepípedo que servia de travesseiro. Dormiu com fome.
terça-feira, junho 27, 2017
terça-feira, junho 20, 2017
SÃO SUFIXOS
- Não deu certo.
- Te falei para se ligar nos sufixos.
- Lá vem você com português.
- Sabe por que não deu certo? Você não sabe diferenciar interessado, interesseiro e interessante.
- Que isso?
- Viu? São sufixos.
- Te falei para se ligar nos sufixos.
- Lá vem você com português.
- Sabe por que não deu certo? Você não sabe diferenciar interessado, interesseiro e interessante.
- Que isso?
- Viu? São sufixos.
domingo, junho 18, 2017
NÃO ABANDONE POEMAS
Respeito várias preguiças. Não sou do tipo mais exemplar que percorre todas – ou a maioria – das horas da vida com energia incessante. Tenho preguiça de acordar, de levantar da cama, de enfrentar o frio ou o calor ou o nublado, de ouvir gente animada ou triste em alguns momentos do dia, de virar ou desvirar ou atravessar ou voltar ou circular ou recuar. São muitas preguiças que acontecem várias vezes. Há quem tenha preguiça de cozinhar com ou sem fome. Preguiça de se banhar com ou sem sujeira. Lembremos que preguiça é um dos pecados capitais mais populares e, até certo ponto, simpáticos da lista.
Por preguiça já ignorei umas belas oportunidades de belas bocas, umas consideráveis chances de belas fodas. Era jovem, dirão. Isso para pegar leve. Mas, me defendo, eu era tímido e acredito que timidez tem alguma relação com preguiça também já que o tímido evitar ter desgastes, problemas. Por preguiça já cometi pequenos delitos. Principalmente, ignorei poemas. Ignorei ideias. Ignorei súbitos. Enquanto gargalhava na mesa de um restaurante com cinco ou seis amigos escolhi ignorar um poema. Quando atravessava a passarela da avenida movimentada ignorei outro poema. Quando via um filme emblemático no cinema da zona oeste acabei deixando para depois um bom pensamento. Minha oralidade é péssima. Tenho sempre que anotar, registrar. Poemas abandonados, assim como ideias ou caminhos ou amores, acabam sempre procurando novos donos. Poemas também abandonam poetas.
Que sejam perdoadas até aqueles dias que se tem preguiça de viver. Por mais que os amigos de outras cidades gostem e desejem viver, na cidade do Rio de Janeiro isso é bem corriqueiro. Muitas preguiças são perdoáveis. A não ser aquela mais indefensável de todas: a preguiça de pensar.
sexta-feira, junho 16, 2017
sexta-feira, junho 09, 2017
NUMA CONTA SIMPLES A GENTE PERCEBE O QUANTO TEMPO PERDE COM ORGULHO
Não é, digamos, daquele tipo de fazer planilhas até para a
vida sexual dos animais de estimação. Só que nesse dia resolveu colocar em
números o tempo perdido por não ter dado o braço a torcer. Pela primeira vez fez
as contas de cabeça mesmo.
Reginaldo tem 52 anos. Sabe que demorará para aposentar.
Desses anos tem lembranças a partir do sétimo ano de idade. Põe aí 45 anos de
alguma lucidez. Perdeu a foto mais comentada pela família na infância por ter
ficado de bico após a mãe recusar a deixar comer brigadeiro antes da hora. Não
deu o braço a torcer. Perdeu algumas horas de festa. Perdeu alguns dias,
somando as datas especiais de reuniões em família em que comentam sobre a foto.
Com a esposa perde, por vez, noites de amor e sexo quando demora a dar o braço
a torcer. Somando esse fato corriqueiro desde que começaram a namorar lá pela
época de seus 21 anos, caramba, são alguns anos perdidos.
Isso, salvos alguns erros de percurso, pode ser chamado de
orgulho. Há, pelo menos, um Reginaldo lendo. Ou um Reginaldo amigo de quem está
lendo, ao lado ou ao longe de quem está passando os olhos por essa crônica. Uma
pessoa orgulhosa carrega essa fama por onde vai. Variam em tipos e formatos.
Conheço o orgulhoso mais disfarçado do mundo: aquela pessoa humilde e amável em
quase todas as esferas da vida mas que não sabe, em hipótese alguma, pedir
desculpas. Talvez seja por alguma sensação de que pedir desculpas é sentir-se
inferior. É um tipo, mesmo travestindo sorrisos de quem pode ter acabado de
realizar a missão mais linda do mundo, que procura e acaba encontrando mesmo
num erro grande um motivo para se isentar da obrigação de se retratar.
Não há aqui a vilanização do orgulho. Existe uma coloração
do orgulho extremamente necessária. É o chamado amor-próprio. Na outra ponta
vira arrogância. Mas por qual motivos andamos preferindo tanto a arrogância?
Ninguém recua. Cada vez menos nos apresentamos dispostos ao diálogo. No
primeiro incômodo fechamos a cara, saímos do grupo do Whatsapp, ficamos por
dias – ou anos em alguns casos – sem falar por puro orgulho. Perdemos uma boa
viagem, um bom jantar, uma boa gargalhada com o amigo desastrado, uma
confidência da tia agradável, o momento que a tão disputada coxa do peru de
natal acaba caindo ao chão, a vergonha de uma dança ridícula, uma noite ou
tarde de sexo gostoso. Tudo por orgulho.
Reginaldo acabou de dar o braço a torcer. Nem doeu. E se tivesse
doído seria por bem menos tempo e intensidade que ficar dias dentro de uma
armadura. É ou não é muito engraçado quando a criança está de bico e tenta, com
delicioso insucesso, não rir de algo hilário? Numa conta simples você percebe
que o tempo perdido com a cara fechada é imenso. A sorte é que Reginaldo é
apenas uma personagem fictício e eu, como escritor, posso facilmente
reescrevê-lo substituindo esse orgulho por amor-próprio. Reescreva também.
Thiago Kuerques
terça-feira, junho 06, 2017
O uso de metáforas e clichês
Como andam as metáforas e os clichês na sua rotina? Reconheço que costumo exagerar em muitas vezes. Em Território, lançado em abril deste ano, uso do artifício. Em um dos contos mais robustos, O Senhor do Nevoeiro, trago uma grande metáfora sobre relações humanas, vícios e manias geográficas e religiosidades. Estive, exatamente pela força da metáfora, com um pé atrás em relação à publicação desse conto. Hoje vários leitores congratulam a ousadia da narrativa de uma tragédia fantástica na cidade do Rio de Janeiro presente na história.
E vocês? Como usam as metáforas e os clichês em sua rotina?
Assistam o vídeo abaixo. Compartilhem em suas redes. Assinem o canal.
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