terça-feira, outubro 31, 2017

NÃO SE DIZ SÓ O QUE FOI ERUDITO

Existe uma cruel distância entre a academia e a sociedade, entre o debate e o trabalhador, entre os sentimentos e as ações, mas entre Chico Buarque e funk carioca não existe, não. Nem digo geograficamente, apesar do óbvio itinerante. Entre em uma sala de graduandos, mestrandos e doutorandos e abra a cabeça com ideias incríveis, intenções idem e argumentos muito plausíveis. Chico Buarque, dizem, é o bom e necessário. Funk é, também dizem, porcaria das mais detestáveis. Isso sem contar o projeto de lei que tramita no Senado depois de saída da cabeça de um sujeito da zona norte de São Paulo e embasada por mais de vinte mil assinaturas que criminaliza o funk.
O que tem em ser popular? O que tem ser periférico? Entramos, em ciclos, em debates superficiais que escondem a por vezes velada guerra de classes. O problema não é o som, mas quem o pratica. Foi assim com samba, com o rap e com tantos outros. De outro lado circulam bons pensadores e ótimos pensamentos em círculos fechados de universidades, cafés, encontros. O que falta para serem discursos menos acadêmicos e mais públicos? Por qual motivo são só ideias e não ações?
Nem lá, nem cá. Nem todos são ótimos e poderemos viver num mundo mágico. Mas os exageros estão cada vez mais absurdos. Deixe que Maria Bethânia seja compreendida tanto quanto a Ludmilla. Que o Wesley Safadão seja registrado assim como Milton Nascimento. Que sejam lidos, relidos, retratem suas realidades. Sem exageros, sem embates. Que os extremos se aproximem. Que o cara do trem lotado possa ser escutado em sua arte e em suas ideias, seus gostos, e respeitado tanto quanto o sujeito que dirige por túneis, tira férias fora do país e tem sua arte e suas ideias também. Que se aproximem. Que debatam. Que formem uma aliança peculiar. Não se diz só o que foi erudito. O popular também se diz, né não, meu irmão? O desafio da distância e do conteúdo, do respeito e da fórmula, é grande e necessário ser encarado. Temos a criatividade a nosso favor, basta colocar na prática o que a gente faz em nossos ambientes fechados. O mundo é maior, muito maior. Falta só ser melhor. E poder ser. Vá por mim.

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