quinta-feira, janeiro 09, 2014

A Barreira do Oi

Reparei na barreira do OI que impomos aos desconhecidos por aí. Para o zelador mais fechado, para o padeiro do bairro, para o atendente do caixa do banco, para o cobrador do ônibus – os poucos que sobraram -, para o conhecido da academia. Até aí, pela lá, tudo normal apesar da normalidade. Estamos sempre fechados mesmo que sejamos bastante expansivos. O desconhecido é chamado de estranho desde sempre e não pode ser à toa. Não falamos com estranhos e nem aceitamos nada de estranhos. Estranhos, repara? E não desconhecidos.
O OI, neste caso, é para quem não está dentro de nossas vidas ou por enquanto ou num estado eterno. Tem gente que do início ao fim da vida não conhece todo mundo do bairro, mas é amigo do rapaz lá de Manaus, mesmo que virtualmente. O OI de passagem. Conhecemos pessoas de OI e TCHAU. Mais que isso só comentários sobre o calor carioca ou a chuva de ontem.
O pior OI é para quem entrou e saiu. É pior porque você transformou o conhecido em desconhecido, ou estranho. Aquela ex-namorada que você via totalmente pelada, que você sabia cada mania, cada significado de cada risada e cada plano passa por você resumida a um cumprimento. É natural. Não há como haver intimidade eterna justamente porque provavelmente eu vejo outro alguém pelada, sei de cada mania, cada significado de cada risada e cada plano. É uma substituição não exatamente plástica e descartável.
Talvez seja pior com amigos. Não houve desquite, só descaso. Não houve aviso, só afastado. Aquele amigo que dormia na sua casa e confidenciava do seu choro hoje é resumido a um “oi” no cruzamento da escada da saída de uma estação de metrô qualquer. Em um mundo de amigo que adiciona amigo do amigo porque passaram cerca de uma hora dentro de um mesmo restaurante com rodízio e compartilharam risadas em grupo. Da internet se você gritar meia dúzia pode responder. Bem pouco perto dos mais de quinhentos amigos virtuais, literalmente.

Não existe contrato de estabilidade entre quem é mais que um OI que não impeça de viver vários TCHAUS. Todos invisíveis, alguns prematuros e todos completamente reversíveis. Na relação escritor x leitor peço, não abandonem a leitura sem ao menos uma justa causa. Estamos combinados?

3 comentários:

Roberta disse...

Thiiii, nem estou acreditando que essa atualização apareceu no Feed Burner rs. Muito feliz!

Oh, sobre o texto, eu sou toda errada, evito semi-conhecidos sim, porque acho tão uó ficar só no "oi", mas às vezes eu não tenho assunto.
E concordo, você convive anos na maior intimidade com alguém e, então, um belo dia, a conversa entre vocês se resume a um 'oi'. Não sei, acho que sou errada em ser super expansiva e sair conversando com pessoas que sequer conheço rs.

Thiago Kuerques disse...

Oiii! Caramba. Fiquei surpreso de ver um comentário aqui. E logo o seu.
A situação é o íntimo que vira conhecido. Que é natural e estranho, ao mesmo tempo.
Me bateu uma curiosidade: e entre nós dois, mais virtuais que pessoais, seria mais que "oi"? Certo?

Leticia disse...

Resumo tudo a oi. Sou tímida, mas só os meus "mais que oi" sabem disso. Passo por metida pra todo mundo, quando na verdade é só timidez rs