Reparei na barreira do OI que impomos aos desconhecidos por
aí. Para o zelador mais fechado, para o padeiro do bairro, para o atendente do
caixa do banco, para o cobrador do ônibus – os poucos que sobraram -, para o
conhecido da academia. Até aí, pela lá, tudo normal apesar da normalidade.
Estamos sempre fechados mesmo que sejamos bastante expansivos. O desconhecido é
chamado de estranho desde sempre e não pode ser à toa. Não falamos com
estranhos e nem aceitamos nada de estranhos. Estranhos, repara? E não
desconhecidos.
O OI, neste caso, é para quem não está dentro de nossas
vidas ou por enquanto ou num estado eterno. Tem gente que do início ao fim da
vida não conhece todo mundo do bairro, mas é amigo do rapaz lá de Manaus, mesmo
que virtualmente. O OI de passagem. Conhecemos pessoas de OI e TCHAU. Mais que
isso só comentários sobre o calor carioca ou a chuva de ontem.
O pior OI é para quem entrou e saiu. É pior porque você
transformou o conhecido em desconhecido, ou estranho. Aquela ex-namorada que
você via totalmente pelada, que você sabia cada mania, cada significado de cada
risada e cada plano passa por você resumida a um cumprimento. É natural. Não há
como haver intimidade eterna justamente porque provavelmente eu vejo outro
alguém pelada, sei de cada mania, cada significado de cada risada e cada plano.
É uma substituição não exatamente plástica e descartável.
Talvez seja pior com amigos. Não houve desquite, só descaso.
Não houve aviso, só afastado. Aquele amigo que dormia na sua casa e
confidenciava do seu choro hoje é resumido a um “oi” no cruzamento da escada da
saída de uma estação de metrô qualquer. Em um mundo de amigo que adiciona amigo
do amigo porque passaram cerca de uma hora dentro de um mesmo restaurante com
rodízio e compartilharam risadas em grupo. Da internet se você gritar meia
dúzia pode responder. Bem pouco perto dos mais de quinhentos amigos virtuais,
literalmente.
Não existe contrato de estabilidade entre quem é mais que um
OI que não impeça de viver vários TCHAUS. Todos invisíveis, alguns prematuros e
todos completamente reversíveis. Na relação escritor x leitor peço, não
abandonem a leitura sem ao menos uma justa causa. Estamos combinados?
3 comentários:
Thiiii, nem estou acreditando que essa atualização apareceu no Feed Burner rs. Muito feliz!
Oh, sobre o texto, eu sou toda errada, evito semi-conhecidos sim, porque acho tão uó ficar só no "oi", mas às vezes eu não tenho assunto.
E concordo, você convive anos na maior intimidade com alguém e, então, um belo dia, a conversa entre vocês se resume a um 'oi'. Não sei, acho que sou errada em ser super expansiva e sair conversando com pessoas que sequer conheço rs.
Oiii! Caramba. Fiquei surpreso de ver um comentário aqui. E logo o seu.
A situação é o íntimo que vira conhecido. Que é natural e estranho, ao mesmo tempo.
Me bateu uma curiosidade: e entre nós dois, mais virtuais que pessoais, seria mais que "oi"? Certo?
Resumo tudo a oi. Sou tímida, mas só os meus "mais que oi" sabem disso. Passo por metida pra todo mundo, quando na verdade é só timidez rs
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