sábado, setembro 06, 2008

O casamento em um pote de sorvete

Se não tem ainda, terá. É sentimento de culpa, momento de euforia, nota baixa, decepção com alguém confiável, trocar sal por açucar, achar que o pote de sorvete guardado no congelador era realmente sorvete e não aquele feijão velho. O menino do rio era feio, rapaz. A garota de ipanema, uma rapariga de barriguda. Mas era moda ser feio. Mas era moda ter saliência na pança. A minha moda, em particular era viver. Não tem história de surfista da zona sul fazendo sexo na areia ao raiar do dia não. A minha é pra lá de Marechal. Pra lá de Campo Grande. Pra lá de Campos. Escolhe uma cidade distante aí, é nela. Limitei a dizer aquelas coisas que só se vê em filme.

- Escolhe um planeta.
- Um planeta? Saturno. Adoro os anéis. É mais pelo cliquê e não pela música da Rita Lee. Aposto que iria me levar para lá, não é mesmo?
- Te levo aonde quiser.
"- Só se for em pensamento. Gosto tanto do Pradinho mas assim fica difícil. Ele sempre diz que irá me levar em algum lugar. Sempre o mesmo sorriso romântico. Sempre a mesma melodia. Minha rádio quer sabia dessa MPB de sempre."
- Faz tanto tempo, não?
- É. É meio estranho.
- Mudei?
- Claro. Fazem cinco anos. Você era careca, praticamente. Raspava a cabeça.
- E você era do Ensino Médio.
- E sonhávamos.
"- Ela está linda, como sempre. Não mudou nada. Casados há cinco anos, quem diria. E eu irônico como nunda."
- Eu sonho ainda, minha peixinha.
"- O ruim é deixar passar pela primeira vez. É como sexo que faz entrar o dito cujo uma vez, um sofrimento e depois disso vira rotina. Era pra ter dito que não gosto que me bajule o tempo todo e que não gosto que me chame de peixinha. Não sou do mar."
- Meu...meu...meu lindo.
- Seus seios continuam lindos.
"Flácidos"
- Obrigada. Suas pernas continuam torneadas. Parece jogador de futebol.
"Gelatinas"
- Rosto jovem ainda.
"Enrugada"
- Seus cabelos grisalhos dão um tom charmoso...
"... e idoso. Se cuidasse..."
- Me ama?
- Gosto muito.
"- Ela não disse que ama. Não disse. Olhou pro chão. Rastejava por mim. Agora lateja de tesão por ver Saia Justa no GNT. E só."
- É?
- Te amo, claro.

E depois de umas semanas nos cruzamos no pior sentido da palavra cruzar. Ela cruzou as pernas e nada de sexo. Eu cruzei a cidade e tudo de sexo. Cruzei o portão e nada de Amália. Cruzamos por mais umas vezes. Um dia atinei a chegar em casa mais cedo. o Álvaro estava na sala vendo TV de cabelo molhado. Banho tomado, sabe? Outro dia a Rita ligou lá pra casa. Não passou disso. A conversa não passa disso. Sabemos de tudo e não sabemos de nada.

"- Se eu tivesse tido a coragem de não seguir em frente com algo à meia porção de prazer."
"- Se eu não tivesse forçado tanto a barra."

Eles só tem dois filhos. Só dois filhos. E é nessas horas que encontramos o pote de sorvete cheio de feijão congelado. Essa é a tônica do casamento até que me provem o contrário.

9 comentários:

Anônimo disse...

Pois que provem o contrário!
E que a gente não espere pelos outros pra isso.

Beijoos.

Cinthia Pascueto disse...

Triste isso.

Quando casar, nem vai ter pote com feijão na minha geladeira. Não gosto e espero que meu futuro honorável nem esquente com isso. Sei lá, fico amiga da sogra e vamos almoçar lá quando ele sentir saudade.

Mas sorvete sim, de diferentes sabores. E por que não nos potinhos que seriam para o feijão?

Beeijo!

Adorável, como sempre.

*Não vejo problemas em inflar seu ego. Pra escrever sempre, e bem assim, acredito que vc não deixe essa bajulação subir à cabeça. Gente metida não consegue ter esse toque de gênio que vc tem.

Um dia, ainda te exijo um livro autografado.

;)

Anônimo disse...

Por isso me dá medo de casar, sou toda 'amor além da vida', mas no meio dessa vida o casamento estraga ou é levado com a barriga. ''¬¬
Eu amo muito um amigo meu, mas tenho certeza absoluta de que se eu me casar com ele o encanto some em duas semanas =/
O esquema é casar com um estranho e fazer do casamento uma descoberta, assim não entra na rotina, né?! ;P

Beijos, Thiago.

Anônimo disse...

e eu já cai nessa do pote de sorvete ser feijão (dá uma raiva)
dhdsauaduisadhusaidsaduidhuauisda

Mariliza Silva disse...

Ah se pudéssemos segurar nossos amados, congelados, para que quando encontrarmos tudo seria igual aos nossos olhos e se ele achar que estamos diferente.... que nos congele!

beijão e some não

Mariliza

Anônimo disse...

Li no dia 6 e não tive coragem de comentar. Hoje, dia 10, escrevo pra dizer que gosto sempre dos textos que leio aqui. A gente sempre se identifica ou algum caso conhecido, na família e amigos. Escreves bem, porque o fazes com emoção e geralmente,sobre a vida, que é a mais bela das inspirações.

Grande beijo!

CArina CAmila disse...

AIi AIi..
Bem verdade nné?

vc é demais Thi!
=]

Beijos

R.C. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
R.C. disse...

Rá!
Mesmo se alguém te provar, ou não, o contrário...
Deus me livre (e eu e meu marido nos livremos juntos) disso aí. Ou nos faça achar um barato o feijão congelado.

=)