Se não tem ainda, terá. É sentimento de culpa, momento de euforia, nota baixa, decepção com alguém confiável, trocar sal por açucar, achar que o pote de sorvete guardado no congelador era realmente sorvete e não aquele feijão velho. O menino do rio era feio, rapaz. A garota de ipanema, uma rapariga de barriguda. Mas era moda ser feio. Mas era moda ter saliência na pança. A minha moda, em particular era viver. Não tem história de surfista da zona sul fazendo sexo na areia ao raiar do dia não. A minha é pra lá de Marechal. Pra lá de Campo Grande. Pra lá de Campos. Escolhe uma cidade distante aí, é nela. Limitei a dizer aquelas coisas que só se vê em filme.
- Escolhe um planeta.
- Um planeta? Saturno. Adoro os anéis. É mais pelo cliquê e não pela música da Rita Lee. Aposto que iria me levar para lá, não é mesmo?
- Te levo aonde quiser.
"- Só se for em pensamento. Gosto tanto do Pradinho mas assim fica difícil. Ele sempre diz que irá me levar em algum lugar. Sempre o mesmo sorriso romântico. Sempre a mesma melodia. Minha rádio quer sabia dessa MPB de sempre."
- Faz tanto tempo, não?
- É. É meio estranho.
- Mudei?
- Claro. Fazem cinco anos. Você era careca, praticamente. Raspava a cabeça.
- E você era do Ensino Médio.
- E sonhávamos.
"- Ela está linda, como sempre. Não mudou nada. Casados há cinco anos, quem diria. E eu irônico como nunda."
- Eu sonho ainda, minha peixinha.
"- O ruim é deixar passar pela primeira vez. É como sexo que faz entrar o dito cujo uma vez, um sofrimento e depois disso vira rotina. Era pra ter dito que não gosto que me bajule o tempo todo e que não gosto que me chame de peixinha. Não sou do mar."
- Meu...meu...meu lindo.
- Seus seios continuam lindos.
"Flácidos"
- Obrigada. Suas pernas continuam torneadas. Parece jogador de futebol.
"Gelatinas"
- Rosto jovem ainda.
"Enrugada"
- Seus cabelos grisalhos dão um tom charmoso...
"... e idoso. Se cuidasse..."
- Me ama?
- Gosto muito.
"- Ela não disse que ama. Não disse. Olhou pro chão. Rastejava por mim. Agora lateja de tesão por ver Saia Justa no GNT. E só."
- É?
- Te amo, claro.
E depois de umas semanas nos cruzamos no pior sentido da palavra cruzar. Ela cruzou as pernas e nada de sexo. Eu cruzei a cidade e tudo de sexo. Cruzei o portão e nada de Amália. Cruzamos por mais umas vezes. Um dia atinei a chegar em casa mais cedo. o Álvaro estava na sala vendo TV de cabelo molhado. Banho tomado, sabe? Outro dia a Rita ligou lá pra casa. Não passou disso. A conversa não passa disso. Sabemos de tudo e não sabemos de nada.
"- Se eu tivesse tido a coragem de não seguir em frente com algo à meia porção de prazer."
"- Se eu não tivesse forçado tanto a barra."
Eles só tem dois filhos. Só dois filhos. E é nessas horas que encontramos o pote de sorvete cheio de feijão congelado. Essa é a tônica do casamento até que me provem o contrário.
9 comentários:
Pois que provem o contrário!
E que a gente não espere pelos outros pra isso.
Beijoos.
Triste isso.
Quando casar, nem vai ter pote com feijão na minha geladeira. Não gosto e espero que meu futuro honorável nem esquente com isso. Sei lá, fico amiga da sogra e vamos almoçar lá quando ele sentir saudade.
Mas sorvete sim, de diferentes sabores. E por que não nos potinhos que seriam para o feijão?
Beeijo!
Adorável, como sempre.
*Não vejo problemas em inflar seu ego. Pra escrever sempre, e bem assim, acredito que vc não deixe essa bajulação subir à cabeça. Gente metida não consegue ter esse toque de gênio que vc tem.
Um dia, ainda te exijo um livro autografado.
;)
Por isso me dá medo de casar, sou toda 'amor além da vida', mas no meio dessa vida o casamento estraga ou é levado com a barriga. ''¬¬
Eu amo muito um amigo meu, mas tenho certeza absoluta de que se eu me casar com ele o encanto some em duas semanas =/
O esquema é casar com um estranho e fazer do casamento uma descoberta, assim não entra na rotina, né?! ;P
Beijos, Thiago.
e eu já cai nessa do pote de sorvete ser feijão (dá uma raiva)
dhdsauaduisadhusaidsaduidhuauisda
Ah se pudéssemos segurar nossos amados, congelados, para que quando encontrarmos tudo seria igual aos nossos olhos e se ele achar que estamos diferente.... que nos congele!
beijão e some não
Mariliza
Li no dia 6 e não tive coragem de comentar. Hoje, dia 10, escrevo pra dizer que gosto sempre dos textos que leio aqui. A gente sempre se identifica ou algum caso conhecido, na família e amigos. Escreves bem, porque o fazes com emoção e geralmente,sobre a vida, que é a mais bela das inspirações.
Grande beijo!
AIi AIi..
Bem verdade nné?
vc é demais Thi!
=]
Beijos
Rá!
Mesmo se alguém te provar, ou não, o contrário...
Deus me livre (e eu e meu marido nos livremos juntos) disso aí. Ou nos faça achar um barato o feijão congelado.
=)
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