domingo, novembro 08, 2009

A princesa e o negro

Maquiava-se com vontade ininterrupta. A mulher chegou onde chegou por isso. Ninguém a domava mas domava até o ninguém. Nem super velocidade, nem hiper força. Ela possuía o poder da persuasão. Seu fraco? Sei lá. Diziam que era Pedrão.
Era uma grandiosa movimentação. O maior negócio da história do Brasil. Assinaria a Lei final. Mesmo a contragosto. Uma marquesa, princesa, realeza. A primeira assembléia possuía trinta pessoas. Em suas mãos um bilhete:
"Não preste o deserviço de jogar esse pedaço de missiva fora. Acaso me apaixonei por ti, princesa."
Ria-se da gozação. Só podia ser gozação. No dia seguinte, recebera um punhado de documentos e um pedaço rasgado de papel:
"Teus olhos são a fortaleza na qual me prendo toda noite. Te amo para além mar."
Encucava. Parecia raiva. Internamente era intrigante. Já não se ria.
"Se queres saber não saberá. Se queres me ter, terás. Agora se queres apenas saciar a curiosidade, feche os olhos. Amo-te, princesa."
"Reluz em mim esse teu vestido dourado. Só peço que me permita valorizar essa riqueza."
"Se eu fosse nobre digno de tua formosura branca eu seria o homem mais feliz do mundo. Mais que qualquer lei de liberdade."
Os bilhetes seguiam-se em ritmo angustiante. A última reunião ascendera. Era o dia de assinar a revolta dos coronéis e a sentença livre dos negros. Caminhava pelo Palácio sozinha, relutante, pensante. Teve o braço caçado e arrastado velozmente para o primeiro cômodo. Um negro belíssimo, sorridente e com lágrimas no rosto. Possuía na mão um bilhete, talvez o último. A princesa de modo algum havia se sentido insultada. Pegou-o e distribuiu as pontas do papel pela palma da mão direita. Lia o que queria.
"Sou, sim, negro. Sou brilhante por fora. Sou da cor do café que vossa Excelência ama. Assim como o ama, eu a amo. Nada plantei. Nada colhi. Somente vossos lábios não me saem do pensamento. Aprendi a escrever para ao menos contar-lhe do meu amor."
Dera-lhe um beijo na testa e sem palavras saíra da saleta. O negro permaneceu ali por mais duas horas extasiado pelo beijo respeitoso, uma gratidão. A porta abriu-se subitamente. Franziu os cenhos. A princesa não mais altiva devolvera todos os bilhetes e um beijo nos lábios, demorado, eterno, áureo.
Isabel e Pedro. A princesa e o negro.

5 comentários:

Carol Mendes disse...

--> 'EU' QUERO ESCREVER COMO VC UM DIA!

Digo, repito e reitero: SUA VERSATILIDADE ME FASCINA!

Deu uma nova roupagem a um acontecimento importante, a sua visão: autêntica, original, mostrou um outro lado, a cena vista de um outro ângulo.

Muito bom, ou melhor, FANTÁSTICO, como eu JÁ ESPERAVA!

Beijinhos.

carolbardi@hotmail.com disse...

Não sei porque ainda não é livro, se poeta sempre será. Parabéns pelo dom, pela visão, pela escrita. O meu orgulho por você aumenta a cada linha inventada.

Tenho gostado muito das últimas crónicas, um quê de romanticas, criticas e criativas.
Te amo, meu poeta.

Unknown disse...

Oieeee!!!
Q isso heim? Muito poeta! rs
Parabéns!!

Anônimo disse...

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H L disse...

CARAMBA.
o.o'

existem uns trechos no teu texto que eu me pergunto "de onde veio tanta inspiração e criatividade"?


Fantástico!
adorei.