quarta-feira, novembro 04, 2009

A bochechuda e o velhaco

Tipo boa-praça, sabe? Um petisco de gente num homem médio e bonito. Tímido, é verdade, mas de muito bom coração. E tinha uma filha linda, bochechuda e falastrona. Seu mal eram os olhos. Fingia não ver pra ser mais fácil viver.
Caminhavam, ambos, criança e adulto, sem entender quem é quem, afinal, por um sábado qualquer em uma rua qualquer de um país qualquer. Dera uns trocados para a menina sorrir mais. O outro homem pedia uma fatia de dinheiro. Pedia sentado, acuado, envergonhado. A menina virou-se para cumprimentar o homem e jogou mil cruzados para o moço. O pai da menina passou direto e resmungou para a pequena que o mundo não tem jeito e que ela nunca mais fizesse aquilo.


Linda, excentricamente calada e bochechuda. Era solteira, quarentona. Colaborava mensalmente com a Casa do Menino de Rua simplemente por querer. Era, sim, teimosa.
Qualquer dia perdido no tempo parou o carro para ir ao menor e mais sujo pé sujo para esquentar o pé com um sanduiche quente. Caminhou cerca de 200 metros à noite. Foi abordada por um homem arrumado que lhe apontou o medo. A pegou. A arrastou para o carro. E caiu. Um velhaco bateu bem atras da nuca do violento. Um velhaco sujo, fedorento e sem dentes. Um velhaco cúmplice dos cruzados.

A bochechuda lembrava-se sempre de mal a torto do pai. O mundo tem, sim, jeito. Os olhos é que devem ver tudo.

2 comentários:

Letícia disse...

Ainda bem que não tinha nada no texto falando mal das bochechas da menina rs. Quem recebe gestos assim, nunca esquece. A gente nunca sabe de quem vai precisar.

carolbardi@hotmail.com disse...

Para comprovar que é o que damos aos outros o que mais conta. Sorte a nossa e da bochechuda.
Fantástica crónica, para variar. Um beijo com saudades. Amo você.