segunda-feira, maio 10, 2010

Amor de salão

Era número cinco, na rua da ladeira. Tremia a cada passo em direção ao salão. Chovia um mundo inteiro. Haviam árvores em todo o calçamento. E mais que pessoas, mais que sorrisos, mais que música, havia medo. Era a primeira vez que se viam. Era um aniversário vistoso. Sei lá. Nunca se soube que festa era aquela. Sentou-se, ele, à direita do que se parecia com um pedestal. Sentou com uns três estranhos. Padeceu horas com os olhos desencontrados por aí. Mal imaginava o que seria ela. Magra, rechonchuda, alta, miúda.
Quisera ela que fosse tudo certinho como nos sonhos mais rosas. Se fosse fácil não existiriam as novelas. Nem esse aqui que vos escreve teria tamanho tesão para lhes contar. Nem saberia como descrever o quanto ela demorou tanto escolhendo a mais perfeita roupa que não havia reparado nas duas horas e meia de atraso.
O salão era espaçoso como uma audiência de pena de morte. São sempre kilometros que separam um do outro através de um silêncio sem perdão. E o castigo de serem desconhecidos era o sadismo mais gostoso que os dois disputavam. Um lugar comum. Sim, comum no século passado. Detalhes do período imperial. Mais parecia um Theatro Municipal em um espaço atemporal com cadeiras bem distribuídas e luzes a meia-luz.
Mal chegou e o viu, calado, encrostado entre a solidão e a multidão. Seguiu na direção dele. Tocava numa romântica qualquer. Ele seguia os olhos para o chão depois de ter visto o relógio pela enésima quinta vez. Ele levanta-se. Ela se aproxima. Apagam-se todas as luzes. Nem era combinado. Realmente acabou a energia. Vá lá, a mão dela escorreu pelo peito que se virava em sua direção. Ninguém enxergava nada. Eles enxergavam tudo. Os gritos evasivos de quem tem medo do escuro deixavam surdos ambos. Queimaram quarenta e cinco segundos tentando fazer com que as bocas se encontrassem. Recostavam os lábios pelos pescoços, pelos ouvidos, pelos olhos e bochechas. Fecharam os olhos. Pareciam os únicos que enxergavam na escuridão. Ninguém os via. Nem a mais eficaz visal acostumada com o breu os via. Apagaram de vez as luzes do minutos. Os corações misturavam as batidas ora por estarem juntos, ora por se tocarem, ora pelo perigo, ora pela multidão cega, ora por ser sexo mesmo. Não sabiam quanto tempo tinham. E assim mesmo foi. Ela facilitou e desceu as alças do vestido. Ele tirou a própria calça como se fosse uma sujeira na pele. Livrou-se do paletó e da camisa só livrou-se quando ela arrancou-lhe ignorando os botões. Enquanto isso ela ja estava só de calcinha. Ele pôs as duas mãos em cada lado da cintura dela e a trouxe pra perto, rápido. Ela pôs as pernas entre a cintura dele num pulo de gata. Assim mesmo, fazendo cócegas debaixo dela que ele a levou para o canto. Não esbarraram em ninguém. Rasgou a calcinha como se fosse papel. Talvez a calcinha já quisesse sair por si só. Puxava pela nuca os cabelos curtos e negros da mulher. Ela arranhava-lhe com dentes e unhas. Fazia mordidinhas entre as pernas dela. E depois ela entre as pernas dele. Ela fingia ser um pirulito que nunca poderia acabar. Fazia devagar para não gastar. Fazia rápido para gozar. Era indecisa. Ele também. Conviviam bem com isso. Sabia cada coisa que ela gostava. Mas era hora de ser o homem estranho. Ela também. Por isso experimentou colocá-la de costas beijando a nuca da branca, encaixando tudo que desse atras dela. Com a mão direita colocava os dedos deslizando por virilha abaixo. A mão esquerda revezava entre boca e seios. Puxava os bicos até se excitar com gemidos e tremores das pernas dela. A barriga se contraia. As pernas apertavam como se fossem matar alguém. Até que ela de repente saiu de perto e deu-lhe um bom tapa na cara. E deu mais um. Mais outro. No quarto ele segurou a mão. Com a mesma mão segurou uma das pernas. A outra segurou somente uma perna. Abriu e pulou nela como se fosse um castigo que a criança mais espera. Não podia gemer. Mas o último orgasmo foi tão forte que não teve jeito. Gritou. E a luz piscou. Menos de um segundo. Eles recuperavam o fôlego. Não sabiam onde estava qualquer roupa. Por ali só caminhava a calcinha rasgada. E assim ficou.
Acenderam-se as luzes do salão. Já eram cinco da manhã. Não havia mais ninguém em um festa apagada.

5 comentários:

Unknown disse...

muito bom mesmo.
Como sempre surpreendendo a cada leitura.
Essa festa da de mil a zero em festa de criança!
srsrsr.
Parabéns!

Caroline Cardoso disse...

E ai está o famoso conto erótico... haha
Gostei.
=)

Unknown disse...

AHH, THIAGUINHO, ARRAZANDO!!!!!CADA DIA QUE PASSA ME SURPREENDE MAIS!!!!!! SAFADINHOOOO!!! TE AMOOO!!!!

Cibeli Marques disse...

Nossa, muito bom! Escreve bem viu? Adorei!

Bia disse...

Adorei ler esse texto! E tenho que te dizer que você o escreveu melhor do que eu imaginei que escreveria.

Vou aproveitar pra deixar os parabéns pro blog! 4 anos!

Me orgulho de ter lido ele todinho, viu?

Beijoo. ;)