quarta-feira, agosto 11, 2010

Ode à mim

Talvez no mais imperfeito dos terrenos inférteis dos subúrbios da alma nunca tivera sido tão difícil controlar o ódio. Amar é fácil. Difícil é a demonstração, a celebração dançante, as palavras televisionadas, os carinhos explícitos. É muito mais fácil hoje em dia odiar. Pra começar, aqui deste canto com ar-condicionado e canapés de pé em pé, uma palavra que tem o dia em seu meio é uma ponta estranha que os deuses cismaram de ironizar. E pra finalizar, vem o próximo e mal fadado parágrafo.Porque odiar a figurinha da tv, a figurinha da internet, a figurinha do legislativo, a figurinha do relativo, a figurinha da figurinha do amigo é muito mais em conta que amar a todos esses? Talvez algum inóspito psicólogo tresloucado saiba nos entreter com um pouco mais de entendimento sobre a realização pessoal daquele taxista que não faz questão alguma de esconder que odeia o passageiro, o dinheiro inteiro, o destino, o clima, o tamanho da mala e até o próprio carro. E me explique com a mais sábia das burrices porque é tão incomodo dizer que tem prazer em ver a amiga sorrir, no amigo fazer piada, no cachorro correndo com a criança, no convite feito, no pagamento na data certa, na devolução do dvd em perfeitas condições e até na vez que o amigo saiu de casa às 23 horas para o salvar de uma pane seca em plena Rodovia Washington Luiz. É mais fácil odiar.Porque a onda maneira desses rudes humanos é ser do contra, ser revoltada. Se alguém diz que valoriza e até torna unica a presença da menina na festa ela mesma torna a declaraçao de um agrado inofensivo e desimportante.
Ouse entender o odio como a lambança cretina de negaçao, do nao querer, do mal querer. Ouse dialogar com as analogias. As listas nao sao mais das melhores musicas, das mais pedidas da Bilboard. The Cramberries estariam fodidos. Peça a lista dos maiores da historia, dos melhores da historia, dos mais belos, dos mais relevantes. Diria o economista sociologo desportista politico e carismatico que antes a sociedade consumia por igual em escala menor e que hoje ela consome em escala maior e mais segmentada. É a tal atençao dada para as subclasses dos cornos, cornos de pijama, cornos heterosexuais, cornos de honra, cornos gauchos, cornos de pau pequeno. A classe dos menores e irrelevantes, a lista dos imperfeitos. Hoje, amigo que esconde a calvice, se voce pergunta do que as pessoas gostam ela te dizem o que nao gostam. Hoje, amigo com vergonha do passado suspeito, peça a lista da inclusao e ganhará a da exclusao. Quem é bom? Nao. Quem é ruim. Nao que existam mais bons que ruins. Existe o prazer sadico de falar mal e do mal bem mau.
Melhor resgatar a cegueira do poema antigo que dizia que eu quero te matar porque quero te viver, quero te comer porque quero te alimentar, quero te sujar porque quero te limpar, eu te odeio porque te amo.
Antes fosse.

Um comentário:

Gabrielle disse...

Gostei mto do texto..dã! vc ja sabe...rs bom minhas partes favoritas: sobre pq é tao incomodo dizer os prazeres, o final tbm achei mto bom...gosto qnd vc faz referencias, liga uma coisa racional com algo mais poetico, é um otimo desfecho. Parabens!