terça-feira, novembro 02, 2010

Luizinha e o menino falador

Eu era quietinha. Me preparava muito para responder a chamada na sala de aula. Tossia o "presente" depois de ouvir meu nome. Luiza Maria. Já depois era quase uma sinfonia. O Miguel era popular. E eu só uma menininha. Miguel era falador e eu pequenininha.

- A luizinha parece espinha na ponta do nariz. Prefiro minha bola de futebol.

Subi a estradinha de terra ainda meio úmida depois da última chuva feito um raio. Não queria chorar pra ninguém. Fui pro espelho ver se eu tinha alguma espinha. Juro que não tinha.

- Mãe, ele disse que pareço uma espinha. E as espinhas são muito feias.

No dia seguinte, realmente apareceu a dita. Dei um grito de assustar. A mãe achou que eu tinha me machucado, caido da cama, torcido o pé. Antes fosse. Tinha um vulcão na ponta do meu nariz. Era verde. Era extraterrestre.

- Mãe, Miguel tem razão. Eu sou uma espinha.
- Luizinha, ela vai sumir. Você é linda. E ele vai ver que você é linda.

Então eu fingi que estava doente e fiquei em casa três longos dias. Fiquei lendo as revistas da minha mãe. Fiquei vendo no orkut o que o Miguel gosta. Não achei nada. Mas queria ficar linda.
Pedi dinheiro ao papai pra uma missão muito importante. A palavra "missão" animava meu pai, policial dos médios. Fui com a Tatá na loja de meninas. Compramos de tudo. Tatá era mais velha e conseguiu comprar até sutiã com enchimento.

- Quem é essa menina?
Os amigos dele também queriam saber. Todo mundo queria saber. A lanchonete parou. A bola de futebol rolou para o cantinho da calçada, esquecida e murcha. Um menino até deixou o sorvete cair no chão de tão distraído.

Miguel começou a olhar e até queria falar com a menina linda. Mas a menina linda era eu. E quando Miguel veio falar comigo eu disfarcei, fiz que não era comigo.

- Qual o seu nome? Você é nova aqui? Mas você é tão linda!
Eu queria sair correndo de tanta vergonha. Mas eu lembrei de quando ele me falou aquilo e continuei.
- Obrigada. Você que não é. Parece um machucado que demora a sarar.

O gato comeu a língua do menino falador. Nem espinha, nem machucado. O cravo perdeu a rosa.

Um comentário:

Bia disse...

Mulher se vinga! rs

Beijoo =]