terça-feira, novembro 02, 2010

Luizinha e o professor de literatura

Mas me chamavam mesmo era de Mônica, da Turma da da Mônica. Usava quase sempre um vestidinho rosa com os cabelos revoltados e presos por um rabinho de cavalo. Era a cara da mamãe com as bochechas do papai. Oito anos de idade.
Meu primeiro amor foi um homem de óculos com armação preta, sem barba nenhuma, sorriso branco e fácil. Me deu um livrinho de poesias do Carlos Drummond no meu aniversário de nove anos. Eu escrevia uma poesia por dia. Todas pra ele.
Combinei fazer uma surpresa no dia 13 de dezembro. Com custo descobri que era aniversário dele. Juntei o dinheiro que mamãe me dava para comer no colégio. Nada de recreio. Acordei cedo e ansiosa. Estudava à tarde. Nove da manhã e lá estava eu acordando minha prima. Ela me maqueou, arrumou minha roupa e me ajudou comprar uma camisa xadrez de tom amarelado. Cheguei exatamente às 13:27 horas na porta do colégio. Testei o perfume no nariz, passei a mão pelo cabelo e entrei. As aulas começavam em mais vinte minutos. Passei um corredor, o pátio meio deserto, mais dois corredores pequenos até chegar a última sala do bloco B. Abri a porta bem devagar. Tremia tanto que quase fiz terremoto na cidade inteira. Fazia respiração de cachorrinho pra controlar os batimentos. Aprendi na TV. Quando entrei na sala dei de frente com o meu professor de literatura beijando uma mulher mais alta que eu, mais bonita que eu e mais velha que eu. A tremedeira parou de súbito. A caixa de presente caiu. Sai correndo não sei nem pra onde. Só sei que parei num cantinho escuro, pus a cabeça entre os joelhos e quis sumir de todo mundo.
Foi meu primeiro choro de amor. O mais dolorido. Mesmo porque doía tanto que eu não sabia o que era. Nem o que era amor.

3 comentários:

carolbardi@hotmail.com disse...

Que viagem boa por uma literatura simples e ao mesmo tempo cheia de significado, de poesia, de arte! Eu sei que sou suspeita pra falar. Babo de orgulho de você, seja lá o que você faça. Mas esse seu dom ainda vai conquistar o mundo. Já disse que você é o poeta do futuro? Do presente e do passado também.
A Luizinha é uma caricatura disfarçadamente verdadeira do que são as loucuras, os enganos e as delícias do amor, sem importar a idade.

Meu amor por você já ultrapassou qualquer eternidade. Nem poema nem crónica bonita assim descreve. Te amo e ponto.

Roberta disse...

Eu falo que você tem que escrever um livro, Thi... E não é à toa. Tudo que você escreve é muito bom!
É o caso desse texto! Luizinha ainda vai sofrer muito, coitada rs.

Gabrielle disse...

Luizinha não sabe o que está para começar! rs
Não existe coisa mais linda do que a inocência do primeiro amor. Quando relembramos pensamos: e eu que achava que era o fim do mundo. Sempre que um amor se vai, achamos que é o fim. Até que aquele mesmo sentimento inocente volta e mesmo depois de qualquer decepção nos faz acreditar que sim, o amor é possível. Parabéns Thi! Apesar de não ter passado por isso, me lembrou um pouquinho a parte da Mônica...era meu apelido de infância haha. Não para de escrever, pq eu não vou parar de vir aqui =)