sábado, junho 06, 2009

Papéis balzaquianos

Estou com uma intensa vontade de documentar tudo e todos. O rapaz chegando em casa junto do sol chegando ao dia, documento. A senhora metida a jovem menina acompanhada do jovem menino achando-se um senhor. Também documento. E vou entulhando tudo em gavetas transparentes reagentes a benevolências ou maledicências. Se mal, surge uma fluorescência verde-musgo. Se bom, surge uma fluorescência alaranjada-entardecer.
Tá bêbado, menino? Pois digo estar embebedado de inquietações sobre o que perco nas andanças. Andar preterindo buracos e tropeços, receoso do chão que piso, me distraio e permito assim passarem despercebidas vibrantes histórias estampadas nas blusas de Che ou de movimentos culturais. Chego a impensar, e lhes digo, isso não existe.
Vamos documentar que foi a melhor coisa que aprendi esse ano. A vida assim parece um grande crime quase-perfeito. Deverias tu, ou qualquer um, saber disso. A conta de água, o bilhete da namorada, a palavra refreada ou digitada, a promessa proferida ou a asneira engolida viram provas de algum crime cometido, farejado pela milícia do destino. Repare só nos papéis da mamãe e da vovó amarelando os boletins e enfins do já vivido. Sabe aquele não-sei-o-quê comprovante de não-sei-o-quê-lá? Quando o cobrarem, mostre-o. Mostre-o porque palavra por palavra, nem a minha nem a sua não provam nada.

2 comentários:

Leticia disse...

Nada mesmo. Por isso eu pouco falo, e o que escrevo, coloco junto data e hora. Vai quem um dia eu precise provar...Beijos!

carolbardi@hotmail.com disse...

Documentaremos até uma história de verdade que vamos fingir ser inventada para escrever malandrices.
Documentamos todos os dias novas formas de amor. E que engraçado será! Prova-se por si só. Nem a minha nem a sua palavra, nem abraço, nem aperto de mão. Sem lenço e sem documento mesmo. E mesmo assim um gigante invisível e poderoso.
Te amo, meu grande poeta!