terça-feira, dezembro 21, 2010

Os motivos de Tim

Tim Maia viveu em estado grave. E o mais grave nele era a voz. Pedia pra aumentar o retorno, por primavera, até por eu e você, você e eu. E nem nos conhecíamos. Só que o mais marcante foi quando ele pediu que o desse motivos mesmo que fosse pra ir embora. Não me dê motivos pra ir embora. Não quero ver a hora de te perder. Também não quero saber de jogos. Se o jogo foi limpo ou se foi sujo, quero mais é jogar. E jogar a partir de agora.
O mais grave é o motivo. Não quero nunca - e se já fiz isso um dia, não quero nunca mais - pedir que me dê motivos para ir embora, para sair, fugir, para o não. O não, senhores, com esse til aí não me convence. Disconfio de homens sempre gentis, de mulheres sem tpm, de cachorros que não latem, de dias nublados, de bolinho de bacalhau com bacalhau demais e de palavras com til. Se o til vem em cima do a seguido da letra o, é batata: fácil demais de rimar. Então não (olha ele aí) quero motivos assim.
Meus motivos - e que os peço com tanta selvageria - são vários. Um motivo pra continuar. Não pra parar. Motivo pra pescar minguado; pra banho de chuva gelado; pra brincar de mimica todo desengonçado; ficar com o corpo todo malhado; jurar que pra dizer que te amo eu nunca fiquei calado. Um motivo pra aumentar, pra subir, pra rir da cara do Almodóvar e não chorar junto, cair mais, diminuir ainda mais.
Foi aí que Sebastião riu das nossas caras. Sebastião - verdadeiro nome de Tim Maia - parecia cantar triste. Era até melódico. Mas, peço que ouça novamente essa canção. Ele conversa contigo no meio da música, rindo, ignorando o drama. Foi ele quem me fez te olhar e pedir motivos.
Me dê motivos pra não ir embora, estou vendo a hora de te ter. Sou teu amigo, vai ser agora. Podes crer, nunca estará tudo a perder. E por ai vai. Os meus motivos podem ser vários para ficar triste. Nem minha barriga me respeita mais e cresce desordenada. Só que, senhores, podem existir milhões de motivos para não ser feliz mas se tem um pra sorrir, me dê ainda mais motivos. Se tem uma chuva de voz grave eu sou Tim Maia chutando a vaidade da tristeza e rindo contigo, bebendo contigo e sendo tão feliz quanto você me faz. Mas isso acho que é Elymar Santos. E é outra história mais brega ainda.

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