sexta-feira, abril 09, 2010

Carnavalesco

O carnaval é a época do ano em que se abre um enorme adendo e se joga tudo de absurdo entre aspas. Sabe o momento que o texto vai se desenvolvendo e criando um vínculo até vicioso com cada palavra somada? Tem algum momento que usamos da citação para abrilhantar. Uns dizem que é covardia, falta de ousadia de quem não tem palavras próprias e cisma em usar as palavras dos outros. Já outros, como eu, teorizam sobre o não nacionalismo das palavras. Afinal, se lançam poeira no ar, o seu destino e seu dono já são rapazes desconhecidos. E o carnaval nada mais é que um parêntese permissivo. O patrão vira piranha; a santa vira madre; a cocada vira acarajé; o vovô vira neném; o repórter vira tímido; a funkeira não muda em nada; e o micareteiro entra em êxtase. O roubo vira brincadeira; a safadeza vira piada; a mulher acompanhada vira alvo. O engarrafamento vira bloco. A fila vira festa. A calçada vira arquibancada e a rua vira avenida para desfile. Dizem que o ano começa na quarta-feira de cinzas. Acho que o ano termina na quinta-feira roxa, desbotada, crioula, megalomaníaca e infantil. Mesmo assim não há como não gostar. O carnaval é o amor em escala maior onde tudo perde a razão e o sentido único é ser feliz.

2 comentários:

H L disse...

que saudade daqui...

Vitor disse...

Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar
Depois que a banda passou