sexta-feira, abril 23, 2010

Com os cotovelos enterrados

Chorava de soluçar. Não era nem o choro dos campeões, nem dos justos, nem dos alegres. Já misturava a lágrima no chão com a poeira invisível. Formava aquela sujeira de chão de supermercado. Sentado naquela sala branca, cotovelos enterrados na divisoria das coxas com os joelhos. Mãos abraçando o rosto, olhos escondidos, úmidos. E um rangido fino e distante. A médica aproximou-se em mais dóis passos curtos e afagou a nuca do homem. Disse-lhe ter feito tudo certo. Os pais e os médicos.

- Minha dor é maior que da minha esposa. Porque ela gerou a minha filha, teve contato, sentiu a barriga mexer e teve alguma resposta ao carinho dado. Eu só toquei na barriga, ninei o umbigo. Amei sem ver, ouvir e sentir.

Seguiram em silêncio até uma sala separada. Ele viu a filha, pegou-a no colo e deu muitos beijos. Beijou-a por um pouco mais de meia hora. E a médica chorou junto, discretamente. Era o fim do primeiro e único dia na vida de pai e filha. Certeza que se encontrariam outra vez.

2 comentários:

Bia disse...

Certeza que se encontrariam!!

=/

tabinhahh disse...

Aix..triste...=(