quinta-feira, novembro 24, 2011

Pinóquio ainda quer ser gente?

Os bonecos não tem mais inveja nenhuma dos humanos. Os robôs, em outros filmes, por alguma falha no sistema (quer coisa mais humana que uma falha?) passavam a querer ter desejo ou, melhor ainda, desejavam ter desejo. Desejavam poder ter o gosto de um tempero espanhol, ter preguiça de que acordar cedo amanhã de manhã, pular do farol, ter a emoção de um gol no final. Mas imagina agora se algum desses vai querer ser humano. É gente que mata, gente que muito mente, gente que muito rouba, gente com muito rancor, gente que nem é gente mas é muita gente. Aí o Pinóquio vai querer ter um coração para quê? A Fada Azul ficaria roxa de vergonha e nem perdoaria esse meu trocadilho desumano. Aqui estão um boneco de madeira, uma fada, um robô. Estes parecem ser seres mais interesantes que o que eles querem ser. Humanos? Gente? Pessoa assim como a gente vê? Mas os humanos, afinal, só devem estar querendo uma coisa: ser robôs. E nem isso eles podem ser. E Pinóquio, boneco de madeira que queria ser gente, hoje em dia provavelmente não teria a menor vontade.

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