sexta-feira, janeiro 25, 2008

Crônica do filho de amanhã

- Você não é de nada.
- Sou de tudo sim, tá?
- Só porque carrega esse I-pod gigante?
- Isso é um walk-man.
- E só porque fica guardando CD gigante?
- Isso é vinil.
- Você tem barba e joga uma espuma pra tirar com um metalzinho.
- Para barbear nada melhor que uma navalha.
- Você usa canetas!
- Mas já aprendi a digitar.
- Seu celular não tem nada mais que telefone.
- Celular é telefone móvel. E só.
- Pelo menos uma câmera...
- Detesto.
- Por falar em câmera. Poxa vida, ainda usa filmes, câmeras analógicas, das que revelam fotos ainda. Ainda tem gente que revela isso?
- É verdade que essa nem do meu tempo é. Mas eu gosto.
- Você é engraçado. E anda descalço.
- Sou livre, po.
- Vai ficar doente assim. Tem medo não?
- Não morrerei disso.
- Mas vai morrer de câncer com esses charutos aí.
- Só lá pra frente.
- Ai ai. Cinto na barriga. Nem separa o lixo, nem os recicláveis. Plantaçãozinha de pimenta e tomate no fundo da varanda.
- Você realmente acha estranhas essas coisas?
- Acho. E acho muito. E ainda canta Babado Novo...
- Era uma época boa.
- Devia ser mesmo.
- Deixa de ser irônico, menino.
- Você é engraçado. Aquelas tuas fotos...
- Melhor não falar mais nada. Somos de mundos diferentes, meu filho.
- Pai, você realmente tem umas coisas e manias muito esquisitas.
- Somos de outras e tantas gerações.
- Seus primos, meus primos, minhas avós, minha mãe, minha bisavó, no caso, sua tataravô...
- Tenho a impressão de que tem gente que nem é de geração alguma.
- Meu filho, isso já é outra história.

6 comentários:

Anônimo disse...

Estes conflitos de gerações são mesmo engraçados.
Aqui mesmo em casa,por mais que eu explique,meu pai,com 82 anos,não consegue sequer passar um fax. Que dirá usar internet,tel celular.
Afffff

Abração!


http://www.ramsessecxxi.blogger.com.br

Roberta disse...

Às vezes acho que nasci na época errada, me sinto tão fora de moda, tão quadrada, tão careta!
Prefiro assim.
A juventude de hoje não me orgulha muito.

Beeeijos!

Critical Watcher disse...

Diálogo interessante.
Os conflitos são comuns. As pessoas incomuns. As dúvidas mais que comuns. As respostas nem sempre comuns. E então, ser ou não ser comum?

Critical Watcher disse...

Ps.:
Linkei você!

Melissa disse...

Até que tem algumas coisas que fazem falta... O vinil tem lá seus "lados" bons!!! hehehehehe
Até hoje tenho uma tv que vem "embutido" um vídeo!!!
:)

Bárbara Lemos disse...

Risos. Papo interessante. Nunca iria imaginar um final desses. Pra mim, eram dois desconhecidos. :)

Beijo meu.