sexta-feira, janeiro 18, 2008

Eram dez e vinte e sete da sexta-feira dezoito hoje do mês corrente

Tá legal. Foi sufocando aquele sufoco casual. O peito foi queimando aquela mesma fogueira. Foi tremendo absurdamente as pernas, mãos e músculos do braço. Os olhos recorreram às lágrimas para fazer valer o amor que sinto. Que tem? Lágrimas não a trazem aqui, não falam alto, não são atestado algum de sinceridade. Andava misturado àquelas ruas do centro da cidade do Rio de Janeiro eu e aquelas luzes amareladas e enfadonhas. Tivesse um padre ali eu noivava daquela luz tamanha a sua perseguição. E nisso, umas oito da noite, quis porque quis ligar para ela, resolver aquilo. Sou covarde. E quem disse que meu carro pegou? Nem no tranco. Nem na reza. Impaciente peguei o 100 para casa. Praça XV, mergulhão, rodrigues alves, perimetral, ponte Rio-Niterói, esse negro, Isabela, o mar, um casal à beira do mar, o céu, ela novamente. Meus pensamentos beiram ela, sempre. Saltei do ônibus fingindo taquicardia. Tive um surto. Fui à Tijuca atrás dela. De ônibus, claro.
Bati ao número 55. Era uma daquelas casinhas antigas, com varanda e potãozinho. Este, entreaberto. Entrei. Caminhei dois metros e vi a janela aberta deixando fugir uma luz. Esquece. Não, não esquece. Era meia luz. Uma cama, umas sombras, uma mulher sentada em cima de um homem deitado. Tive comigo, era ela e o paulista. Fugi.
Nem sei onde fui parar. Dei conta que eram dez e vinte e sete da sexta-feira dezoito do mês de janeiro mesmo. Era ano de dois mil e oito. Recordo de tudo em detalhes. Ao menos dos principais. Voltei para niterói no mesmo 100 com o mesmo trocador duvidoso, com o mesmo morotorista louco. Perguntaram da taquicardia. Chamei-a de Isacardia. Os ignorantes acreditaram.
Morava ali mesmo no Benfica, um bairro nobre da vizinha nobre do Rio de Janeiro. A rua era um pouco escura. Mas naquele dezoito de janeiro estava completamente escura exceto um brilho distinto lá pelo número 303, ao lado da padaria do Alceu. Meu caro leitor, eu moro à essa rua na altura do 303. Poderia ser cansaço, loucura ou coisa igual. O amor tem dessas. O desamor tem dessas piores. Estava sangrando com a cena anterior. Subi aos poucos os olhos. Era um vestido amarronzado tremulando a uma brisa leve. Uma gota também leve molhou o dedo segundo do pé dela. Sim, uma mulher.
- Terminamos.
- Isabela?
- Ele aproveitou a desconfiança e se desfez.
- Que se dane o paulista. Vamos ficar pelo rio mesmo. Posso?
- Pode o quê?
- Eu não quero ouvir mais nada.
- Então não tenho mais o que fazer.
À meia-noite, passagem do dia dezoito para o dia dezenove, depois de saber que não era ela na cena avistada - era a irmã com o respectivo namorado, um mineiro - usei a mão dela de travesseiro. O dia que não acabou.

9 comentários:

Júlia Faria disse...

ótimo como sempre, né?! =)

beijo

Anônimo disse...

ai, que lindo...

beijo

"Oncotô? (Erika)"

Letícia disse...

Que lindo!
Bom final para os dois.
E se foi o paulista que terminou, ninguem saiu mal.
Final feliz para todos!rs

Ah, e eu conheço outra pessoa que mora no 303 =)
Bom numero!rs

Beijos!

... disse...

Ai.. final felizz! :D
"O dia que não acabou"...Adorei isso!!
Beijooos, Thi!

Cássia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Cássia disse...

Mas eu até que estava gostando do paulista... uhaauhuahauha

Unknown disse...

Thi, faz um filme.. algo do tipo.
que isso..
eu fico imaginando cada detalhe q vc escreve.. e, nossa!
encantador!!!!!
beijos gatissimo..!
te admiro muiiito

Roberta disse...

Ah, que lindo!
Eu sabia que ia ter um final feliz! =D

Mas, agora que esse acabou, acho bom estar saindo outro do forno rapidinho para deleite de nós, leitores.

Beeeijos

Letícia disse...

Desculpo não.
Jogou na minha cara que nao escrevo nada, que prefere 5 milhoes de vezes os profissionais, e deixou claro que isso é exatamente o que não sou!