domingo, janeiro 13, 2008

Eram seis e trinta e dois da manhã da sexta-feira dezoito de sei lá que mês

- Alô?
- .
- Alô?
- .
- Qual foi, mano? Vai passar trote pra tua..
- Tu, tu, tu, tu..
Não me controlei. Não parei de lembrar da boca fina de Isabela. Sei lá se ela era ou não culpada por ter traído o namorado. Sei que não era qualquer uma. Era uma mulher nunca antes vista. Não à toa fez moradia na mente, no peito, na boca. Eram seis e trinta e dois da manhã da sexta-feira dezoito de sei lá que mês ainda e disquei o celular dela novamente. Havia feito a rotina de sempre. Depois do banho fazia o velho ritual. Primeiro a meia preta. Depois a blusa do uniforme da empresa. De blusa e meia eu ficava numa cena ridículamente engraçada. Depois vinha a calça e por último - óbvio - o sapato. Apago todas as luzes, ataco a chave do carro, saio ao portão, dou uma olhada no dia, se chuva, se cinza, se claro, se enganador, abro para fora o portão daqueles onde os ferros fazem desenhos oblíquos, tiro o carro como sempre quase batendo no poste e vou. Maldito de quem pôs aquele poste ali. Não sou mal motorista apesar do meu amigo me chamar de "maltorista".
Tinha bela no nome. Se não tivesse seria feio. Às vezes acho ruim. Parece que só tem para confirmar. Não é necessário. Até se fosse Georgina seria linda. Pus Leaving On A Jet Plane, Chantal Kreviazuk da Trilha sonora de Armageddon no tocador de mp3. Naquela maldita Via que nada tem de Light engarrrafei tudo. Engarrafei carro, paciência e pensamentos. Isabela, Isabela, mil vezes Isabela. Mas fora somente uma. Aquele beijo. No alto da solterisse dos meus trita e dois anos ainda me dou ao luxo de me apaixonar assim, caipira, adolescente, um beijo de moça comprometida. Parado no trânsito liguei para o celular que novamente deu desligado. Liguei para casa dela. Não tinha nenhuma desculpa. O paulista atendeu. Desliguei.
Maldita sorte a dele. Chegou primeiro e nem sequer perguntou se podia. Me desculpe, meu caro leitor. Todo "outro" acha o "outro" o pior dos inimigos. Eu que o era. Não telefonei mais. Eu era o outro. Eu que adentrava em outros mares. O céu estava mesmo impróprio para tão altos vôos e eu mesmo assim voei. Canalha mesmo era eu. Foda-se. Foi num dia que tomávamos suco de pêssego ao leite que ela me perguntou se eu preferia bicicleta a carro importado. E eu respondi para irmos à pé mesmo. Os dois rimos. E nos apaixonamos.
O trânsito andou. O carro, Fiat 77, morreu. Enganei. Era um Fiesta 96 mesmo. É que sempre achei Fiat 77 bem poético. Só que morrer o carro nessas circunstâncias - nem em circunstância nenhuma - tem graça. Fechei os olhos. Fui para desligar o rádio e começou a tocar Ratatuia, Zeca Pagodinho. Passou um carro e o motorista gritou "Vacilou". O rec rec ligou o motor. Fui trabalhar me culpando e achando o paulista ainda mais sortudo e boa pessoa. Afinal, ela está com ele e não deve ser à toa. Não ligo mais e esses seis meses que não mais nos falamos devem tê-la esquecido de mim.

9 comentários:

Anônimo disse...

Thiii...! Que texto apaixonante!!!
ADoreeeeiiii! Eu amo essas suas histórias que continuam! Tô aqui querendo mais já!
Diz que tem mais...dizz??! =]
Beijooos!

Letícia disse...

Se ele não liga
não tem mais texto?
Poxa =/

Mas td bem
Vai acabar inventando um melhor mesmo..rs

Beijos!

Cássia disse...

Muito bom! Espero que tenha continuação. =)

Beijos

Roberta disse...

Hahahaha
Todo mundo dizendo a mesma coisa que eu ia comentar...
Continua, né?!
Eles vão ter um final feliz, né?!

Sobre o recado...
É que eu deixei um recado pra ele declarando todo o meu amor rs e coloquei assim "Nem sei se você vai ler".
Ele respondeu "Eu leio."
Quase desmaiei de emoção... rs

Unknown disse...

qro ler mais e mais.. contagiante isso.!
beijos gatissimo
(L)

Anônimo disse...

Muito bom o texto.

Abração e uma otima semana a vc.


http://www.ramsessecxxi.blogger.com.br

Anônimo disse...

quando um num quer, dois num 'brigam', né? rsrs

beijos kiridu

"Oncotô? (Erika)"

Gabriel F. disse...

Rapaz,gostei muito do que você escreveu!
Eu estava pensando em começar a escrever pequenos textos assim tbm...mas por hora,só poemas!
Gosto muito do seu estilo de narrativa,bem casual...

Um viva aos novos escritores!
Mesmo que estejamos no nosso mundo "Underground" dos blogs!!!

Abraço!

Unknown disse...

entro aqui toda hora.
atualiza, vai..

beijos