quarta-feira, janeiro 16, 2008

Era meio-dia e dezesseis da sexta-feira dezoito de sei lá que mês

Meu inimigo número um reapareceu. Não que tivesse sumido. Mas resolveu aparecer nos seus mais inspirados momentos de vilania. Não entendo porque hoje, exatamente hoje, ela acordou das profundezas do que eu julgava morno. Claro que pensava nela. Mas hoje fervilhou tudo. Coração canalha. É um jogo de paciência. Meu coração em conluio com a cabeça, inimiga cruel, vai saturando a minha normalidade. Primeiro vem o nome. Depois as lembranças. E como numa encenação de Shakespeare o último ato, a depressão, a tragédia.
Almoço. Fui degustar da minha mais digna hora do dia. Essa coisa de trabalhar com pediatria cansa mesmo. Mesmo que eu seja um mecânico dos veículos bem arrumados. Mesmo que eu sempre esteja completamente esquecido no quintal fedido do Hotel torto que nem lembro o nome também lá perto do Forte de Copacabana, sou gente e mereço comer. Eram minutos após o meio-dia. Deixe-me ver ao celular. Sim, eram meio-dia e dezesseis da sexta-feira dezoito de sei lá que mês que eu caminhava ligeiro e tumultuado pela Rua Tonelero na altura de um prédio estranho – todos por ali o são. As pedras portuguesas são a cara do Rio de Janeiro. E são também a tortura dos meus pés. Pisei torto em uma delas, um buraco onde não havia a pedrinha dita. Sambei pelas bandas em frente ao self-service bonitinho e ordinário. Dei com as ancas num ferro à beira da calçada e beijei o chão. Nada que deixasse marcas a não ser a gargalhada do Almir.
- Machucou?
Não respondi. Juro que sou uma pessoa calma depois de ter deixado um rapaz três dias no CTI por ter me olhado diferente.
A mais viajada não devia estar em casa. Nem que fosse de prazer, uma excitação que me fere só de imaginar numa tórrida cena de sexo que meus olhos não verão jamais com o meu rival. Meu caro leitor, minha pior tortura é imaginá-la com ele. Pior que não tê-la é imaginá-la com outro. Pedi um filé de frango, arroz, farofa e uma coca-cola. O arroz estava ruim, grudento, cinzento. A farofa tinha aqueles pedaços de ovo e umas coisas indefectíveis. E o filé estava realmente bom. Nem tanto para me fazer vibrar. Era então o celular. Piscava na tela Isabela Casa.
- Você me ligou? Aliás, foi você que passou trote para minha casa de manhã cedo?
- Foi e não foi. Isabela. Tudo bem? Eu até liguei pra sua casa mas não tive coragem de falar e desliguei. Como soube?
- Meu celular tem um serviço de avisar quem ligou quando desligado. Apareceu seu número.
Ela desligou o telefone. Liguei novamente.
- Eu só queria dizer que não te esqueci ainda. Que você foi a coisa mais importante que me aconteceu nos últimos tempos. Que eu choro pelas circunstâncias. Queria dizer apenas que já, novamente ou ainda te amo.
- Quem é você, meu?
Eu desliguei dessa vez. Agora ele sabe. Agora ela sabe. Agora ele sabe que alguém a ama. Agora ela sabe que se houver algo, serei eu. Agora todo mundo sabe. E quem não sabia de nada era eu. Já tinha terminado a refeição. Paguei no crédito. Minto, foi no débito. Eles não aceitam crédito. Morreram esses R$18,60 que na conta do mês que vem demorarei três minutos para recordar. Isabela havia me ligado e nossa situação – que não existia, sumida que só – havia piorado. Estava naquele dilema. Ser ou não ser? É meu querido Shakespeare – olha ele aí novamente -, ser e não ser é ser e não ser ao mesmo tempo.

5 comentários:

Unknown disse...

Uaaaaaaaau!
a-mei!
um dia ainda faço um livro com todos seus textos, contos ... e te dou de presente.. Lógico que vou ter uma cópia!!

saudadees

Anônimo disse...

Adorei Thii!
Quero maisss, mais e maiss! :P
Adorei o jeito que vc tá escrevendo... O personagem parece tão real...!
Beijoos!

Anônimo disse...

minhanossa e a trama se enrola.

to adorando.

beijos kiridu


"Oncotô? (Erika)"

Letícia disse...

Mesmo sendo errado a gente acaba torcendo para um encontro dos dois.
E ficamos querendo saber, tanto amor é reciproco?
Continua essa historia heiin menino...rsrs

Beijos!

Melissa disse...

E já chegando no fim dessa leitura, me vi emocionada... Eu adorei!